Bento XVI: Historiador António Matos Ferreira recorda Papa que colocou o «serviço» à frente da «autoridade»

No próximo dia 11 assinala-se um ano sobre o anúncio da renúncia ao pontificado

Lisboa, 04 fev 2014 (Ecclesia) – O próximo dia 11 vai marcar a passagem de um ano sobre o anúncio da renúncia de Bento XVI ao seu pontificado, gesto que o historiador António Matos Ferreira entende como uma mensagem “extremamente relevante”.

Para o diretor do Centro de Estudos de História Religiosa (CEHR) da Universidade Católica Portuguesa, Bento XVI vincou que a função de um Papa, de um líder, da hierarquia, é estar ao “serviço” dos outros, mesmo que isso implique “dar lugar” a outra figura, “mais adequada”.

“O gesto talvez possa ser lido como um ato de conversão, de alguém que estando à frente, tendo tanto poder e autoridade, acaba por se converter no sentido de aceitar as suas limitações, e aceitar as limitações não é fácil”, salienta.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, o docente universitário realça que o gesto do agora Papa emérito surgiu no contexto de um líder que teve “de lidar” com problemas de grande “complexidade”, como as “questões no âmbito da sexualidade” que envolveram a Igreja Católica e “a desordem económica internacional”.

[[a,d,4420,Emissão 03-02-2014]]Bento XVI foi eleito a 19 de abril de 2005, sucedendo a João Paulo II que governou os destinos das comunidades católicas durante cerca de 27 anos.

A escolha do então cardeal alemão deveu-se em primeiro lugar, na opinião de António Matos Ferreira, ao “reconhecimento da sua capacidade como teólogo”, num período da história em que as mudanças sucediam a um ritmo “muito rápido”.

“Havia a perspetiva de uma manutenção ou consolidação do pensamento teológico que de alguma maneira dava garantias, era interpretado como uma continuidade”, recorda o diretor do CEHR, destacando a trilogia que o Papa alemão dedicou a Jesus de Nazaré.

“Na produção teológica de Bento XVI vê-se a necessidade dessa constante consciência dos cristãos se confrontarem com a pessoa de Jesus, que não é uma realidade histórica, é viva, atual, presente”, salienta.

Essa aura de estudioso, de investigador, de alguém que tinha a capacidade de falar ao mundo intelectual, criava ao mesmo tempo a ideia de uma certa “distância” com as pessoas.

O diretor do CEHR recorda, no entanto, que o Papa alemão procurou sempre “ir ao encontro das pessoas” e que foi com ele que “se acelerou a utilização na governação pontifícia da tecnologia moderna, do Twitter, da presença nos novos meios de comunicação”.

Por outro lado, a sua reflexão escrita, especialmente as encíclicas sobre o Amor, a Esperança e a Caridade, reforçou a abertura e a atenção de Bento XVI a um “mundo onde há diferenças” e onde “os cristãos muitas vezes” têm responsabilidade nesses “desajustes de natureza social”.

 “Esse foi todo um trabalho que Bento XVI conseguiu, o apelo às novas gerações, da responsabilidade que têm de construir um mundo que não basta ser justificado por ideologias”, conclui António Matos Ferreira.

O programa ECCLESIA na Antena 1 (22h45) está a evocar esta semana o anúncio da renúncia de Bento XVI ao pontificado, com análises de vários convidados.

SN/JCP

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