Bento XVI evocou ontem a perseguição ao povo arménio, no início do século XX, conhecida como “metz yeghern” (o grande mal). Recebendo no Vaticano a cúpula do Sínodo patriarcal arménio, o Papa fez referência a estes momentos, particularmente dramáticos, que custaram a vida de mais de 1 milhão de pessoas por causa das perseguições do império otomano. Dadas as delicadas relações com o governo turco, Bento XVI evitou utilizar o termo “genocídio”, mas recordou a intervenção do Papa da altura: “Como não lembrar os tantos convites feitos por Leão XIII aos católicos para que socorressem a indigência e os sofrimentos das populações arménias?”. Perante Nerses Bedros XIX Tarmouni, Patriarca da Cilícia dos Arménios (Líbano) e um grupo de peregrinos, o Papa alentou o diálogo ecuménico com os arménios não católicos. A comunidade cristã arménia –presente principalmente na Turquia, Arménia e Azerbaijão -, está dividida numa minoria católica e uma maioria que não reconhece o Primado de Pedro, a Igreja Apostólica Arménia, confissão cristã separada de Roma após o Concílio de Calcedónia (ano 451). Em 1996, João Paulo II e o antigo Patriarca Apostólico Arménio, Karekin I, assinaram uma declaração conjunta sobre a natureza humana e divina de Jesus. Nerses Bedros XIX Tarmouni é o guia de cerca de 600.000 fiéis, espalhados sobretudo pela Europa e assistidos por 120 sacerdotes e noventa religiosas. “No Médio Oriente, na Cilícia e, sucessivamente, no Líbano, a Providência colocou o Patriarcado dos arménios-católicos, que todos os fiéis arménios-católicos vêem como um ponto de referência espiritual sólido, por cauda da sua tradição secular cultural e litúrgica”, explicou Bento XVI. O Papa assinalou que “diversas Igrejas, que reconhecem São Gregório o Iluminador como o pai fundador comum, estão divididas entre elas, embora nas últimas décadas todas tenham reatado um diálogo cordial”. “Exorto a esta renovada fraternidade e colaboração, com o desejo de que dela surjam novas iniciativas para uma caminhada comum rumo à plena unidade, com uma hierarquia própria, em fraterna sintonia interna e em total comunhão com o Bispo de Roma”, concluiu.