Bento XVI e Ingrid Betancourt num encontro emocionado

Bento XVI recebeu nesta Segunda-feira, numa audiência privada na sua residência de Verão de Castel Gandolfo, a ex-refém franco-colombiana Ingrid Betancourt. Apesar do encontro “estritamente privado”, segundo informou o Vaticano, que durou cerca de 20 minutos, a ex-refém revelou, após a audiência, alguns detalhes. “A audiência com o Papa foi um sonho para mim. Conhecer um ser de luz, de humanidade e de tão alto nível de compreensão”, disse Ingrid numa conferência de imprensa, de lágrimas nos olhos, emocionada. “Não consegui cumprir com o protocolo. Assim que o vi só quis abraça-lo, o que não é suposto acontecer”, disse a ex-refém. Ingrid Betancourt recordou a experiência no cativeiro e momento em que ouviu as palavras de Bento XVI a pedir a sua libertação. “Depois de uma marcha muito longa e difícil, num terreno terrível e com o peso do equipamento, pude parar para descansar. Foi quando, entre a desesperança e a tristeza, ouvi na rádio a voz do Papa a pronunciar o meu nome. É difícil descrever o efeito psicológico que isso tem num prisioneiro”, afirmou. “A voz do Papa foi como uma luz”. Ao longo dos seis anos, vários foram os pedidos, por parte da Igreja colombiana e da Santa Sé, para que as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), libertassem Ingrid Betancourt e as centenas de reféns em poder do grupo armado. Católica fervorosa, a ex-refém já tinha manifestado o desejo de ver o Papa, assim que foi libertada a dia 2 de Julho de 2008. Apesar de católica, Ingrid afirmou nunca ter lido a Bíblia, antes de ter sido capturada. Para ela era um velho livro empoeirado. Mas em cativeiro teve tempo para a ler “20 mil vezes” e que hoje é um livro orientador da sua vida. “Se há um manual de instruções da felicidade, esse manual é a Bíblia”, referiu. Ingrid recordou ao Papa como rezava por um milagre durante o cativeiro, não para que Deus a libertasse mas para que lhe mandasse um sinal sobre quando isso ia acontecer, “algo essencial para não cair no desespero”. Pouco tempo depois desse pedido um dos guerrilheiros disse-lhe que talvez fosse libertada após uma visita de uma comissão internacional ao terreno. No entanto, Ingrid acabaria por ser libertada pelo Exército colombiano. “Ele [Deus] ouviu-te porque soubeste pedir. Não pediste para ser libertada mas para que Deus revelasse qual a sua vontade”, respondeu Bento XVI. Ingrid Betancourt afirmou ainda ter rezado com o Papa durante seu encontro “para conseguir tocar o coração duro, o coração cruel” dos líderes das Farc. “Não acredito que seja uma indiscrição dizer que o Papa sofre na primeira pessoa as dores de todos os prisioneiros. As suas orações são dedicadas a alcançar a libertação e a paz do meu país”, declarou a ex-refém. Questionada sobre quais os planos que tem para o futuro, Ingrid Betancourt não colocou de parte o regresso à política mas diz que a sua prioridade é formar um grupo para trabalhar na libertação de outros reféns na Colômbia e noutras partes do mundo. Ingrid Betancourt chegou Dmingo à noite a Roma, acompanhada da sua família. A sua mãe, Yolanda Pulecio, já tinha sido recebida pelo Papa, a 7 de Fevereiro de 2008. Antes da audiência com Bento XVI, o prefeito da cidade de Castel Gandolfo, Maurizio Colacchi, fez questão de cumprimentar a ex-refém na praça da entrada do palácio. Ingrid Betancourt vai permanecer em Itália até ao dia 3 de Setembro. Hoje a ex-refém vai ser recebida pelo presidente da República, Giorgio Napolitano, o chanceler Franco Frattini e o presidente da Câmara dos Deputados, Gianfranco Fini. Betancourt viaja depois para Florença (centro da Itália), onde irá receber a cidadania de honra dessa cidade.

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