O cardeal Frings sabia que estava no caminho certo, e «convidou-me para ir com ele ao Concílio, inicialmente como seu perito pessoal; depois, no decurso do primeiro período – em Novembro de 1962, creio eu – fui nomeado também perito oficial do Concílio».
No encontro de Bento XVI com o clero de Roma, a 14 deste mês, o Papa recorda alguns episódios dos primórdios do II Concílio do Vaticano. Na sua «conversa» com o presbitério romano, Bento XVI começa por uma “curiosidade” sobre a grande assembleia magna da Igreja, convocada pelo Papa João XXII, e que teve o seu início em outubro de 1962.
Em 1959, foi nomeado professor da Universidade de Bonn, onde faziam os seus estudos os seminaristas da diocese de Colónia (Alemanha) e de outras dioceses vizinhas.
Foi assim que entrou em contacto com o cardeal de Colónia: o cardeal Frings. “O cardeal Siri, de Génova, – no ano 1961, acho eu – organizou uma série de conferências sobre o Concílio feitas por vários cardeais europeus, e convidara também o arcebispo de Colónia para realizar uma das conferências que tinha por título: «O Concílio e o mundo do pensamento moderno»”, disse Bento XVI.
“O Cardeal convidou-me – o mais novo dos professores – para lhe redigir um projecto; ele gostou do projecto, e propôs ao povo de Génova o texto como eu o escrevera”, acrescentou o Papa que pediu a resignação a 11 deste mês.
Pouco tempo depois, o Papa João XXIII convida-o para ir ter com ele, e o “cardeal estava cheio de medo por ter talvez dito algo de não correcto, algo de falso, e consequentemente ser chamado para uma admoestação, talvez mesmo para lhe tirar o cardinalato”, recorda o actual Papa
“Na verdade, quando o seu secretário o viu vestido para a audiência, o cardeal disse: «Talvez use agora pela última vez estas vestes». Depois entrou; o Papa João XXIII vem ao seu encontro, abraça-o e diz: «Obrigado, Eminência! O senhor disse as coisas que queria dizer eu, mas não tinha encontrado as palavras»”, sublinhou
“Assim, o Cardeal sabia que estava no caminho certo, e convidou-me para ir com ele ao Concílio, inicialmente como seu perito pessoal; depois, no decurso do primeiro período – em Novembro de 1962, creio eu – fui nomeado também perito oficial do Concílio”.
Perante estes acontecimentos, Bento XVI recorda que partiram “para o Concílio não apenas com alegria, mas também com entusiasmo” e “havia uma expectativa incrível”. “Esperávamos que tudo se renovasse, que viesse verdadeiramente um novo Pentecostes, uma nova era da Igreja, pois esta apresentava-se ainda bastante robusta naquele tempo, a prática dominical ainda boa, as vocações ao sacerdócio e à vida religiosa, apesar de já um pouco reduzidas no número, ainda eram suficientes”, disse.
Contudo – frisou Bento XVI ao clero de Roma – tinha-se “a sensação de que a Igreja não caminhava, ia diminuindo, parecia mais uma realidade do passado que a portadora do futuro”. E, naquele momento, “esperávamos que esta situação se alterasse, mudasse; que a Igreja fosse de novo força do futuro e força do presente”, lê-se no texto.
A relação entre a Igreja e o período moderno “tinha sido, desde o princípio, um pouco contrastante, a começar do erro da Igreja no caso de Galileu Galilei; pensava-se em corrigir este início errado e encontrar de novo a união entre a Igreja e as forças melhores do mundo, para abrir o futuro da humanidade, para abrir o verdadeiro progresso”. E conclui: “Por isso, estávamos cheios de esperança, de entusiasmo e também de vontade de contribuir com a nossa parte para isso”.
LFS