Em livro-entrevista de jornalista alemão, o Papa assume erros, mas critica tentativas de «desacreditar» a Igreja
Bento XVI assume, numa entrevista, que a dimensão dos casos de abusos sexuais sobre menores por parte de membros do clero e em instituições da Igreja foi “um choque enorme”.
As declarações do Papa foram publicadas na edição dominical do jornal do Vaticano, “L’Osservatore Romano”, o qual avança com excertos de um livro-entrevista a Bento XVI, a ser apresentado no dia 23 de Novembro.
Falando com o jornalista alemão Peter Seewald, Bento XVI lembrou que conhecia “os factos”, por ter presidido à Congregação para a Doutrina da Fé, acompanhando em particular a situação nos EUA e na Irlanda.
Ainda assim, o Papa mostra-se chocado e lamenta que estes casos tenham prejudicado a imagem dos sacerdotes católicos em todo o mundo.
“Ver o sacerdócio repentinamente conspurcado deste modo, e com isso a própria Igreja Católica, foi difícil de suporta. Naquele momento, contudo, era importante não desviar o olhar do facto de que na Igreja existe o bem e não apenas estas coisas terríveis”.
Bento XVI recorda os vários encontros que manteve com as vítimas destes abusos e as indicações dadas, já em 2006, num discurso aos bispos irlandeses, para que se evite a repetição destes casos no futuro.
Na entrevista, o Papa diz que, durante a revelação destas situações, “era evidente que a acção dos media não era guiada somente pela pura busca da verdade”.
Bento XVI diz que muitos se comprazeram em “colocar a Igreja na berlinda e, se possível, desacreditá-la”.
Ainda assim, o Papa frisa que isto só se verificou “porque o mal estava dentro da Igreja”.
A respeito do sacerdócio, Bento XVI volta a afirmar a oposição da Igreja Católica à ordenação de mulheres, considerando que “não se trata de não querer, mas de não poder”, porque a Igreja não é “um regime do arbítrio”.
“Não podemos fazer o que queremos, há uma vontade do Senhor para nós, à qual nos agarramos, mesmo que seja fatigante e difícil na cultura e na civilização de hoje”, precisou.
Para o Papa, as funções confiadas às mulheres são “tão grandes e significativas que não se pode falar de discriminação”, acrescentando que “em diversas ocasiões, as mulheres definiram mais o rosto da Igreja do que os homens”.
O livro “Luz do mundo. O Papa, a Igreja e os sinais dos tempos” resulta de uma conversa entre Bento XVI e Seewald – que já por duas vezes tinha entrevistado Joseph Ratzinger, ainda cardeal – na residência pontifícia de Castel Gandolfo, perto de Roma, entre os dias 26 e 31 de Julho deste ano.