Bento XVI celebra «génio» de Gaudí

Papa repete convite à redescoberta de Deus e elogia beleza da basílica da Sagrada Família

Bento XVI celebrou este Domingo, em Barcelona, o “génio” de Antoni Gaudí ao dedicar ao culto a igreja da Sagrada Família, um “milagre arquitectónico” que elevou à categoria de basílica.

Segundo o Papa, que falava perante uma igreja repleta, obras como esta ajudam a “mostrar ao mundo o rosto de Deus, que é amor e o único que pode responder ao desejo de plenitude do homem”.

“Essa é a grande tarefa, mostrar a todos que Deus é o Deus da paz e não da violência, da liberdade e não da coacção, da concórdia e não da discórdia”, disse na homilia da Missa de consagração do templo, em construção há mais de 125 anos.

Para Bento XVI, esta celebração é de “grande significado” numa época em que “o homem pretende edificar a sua vida de costas para Deus, como se já não tivesse nada a dizer-lhe”.

“Gaudí, com a sua obra, mostra-nos que Deus é a verdadeira medida do homem”, apontou.

Depois da homilia e das ladainhas, tem lugar propriamente o rito da dedicação, que simboliza a intenção de consagrar a igreja a Deus.

Com Bento XVI celebram 25 cardeais, bispos -incluindo D. Manuel Clente, bispo do Porto – e padres, num total de 1100 membros do clero, que se somam a 450 religiosos e religiosas e 800 cantores, para além de autoridades políticas, com destaque para os reis de Espanha.  50 mil pessoas acompanham a celebração no exterior do templo.

O Papa falou na igreja-símbolo de Barcelona como uma “síntese admirável entre técnica, arte e fé”.

Nesse sentido, agradeceu a todos os que trabalharam neste templo expiatório – assim denominado por ser construído apenas com donativos privados -, lembrando uma “longa história de sonhos, trabalho e generosidade”.

Bento XVI elogiou em particular o «pai» deste projecto, Antoni Gaudí, (1852-1926), cujo processo de beatificação está em curso, “arquitecto genial e cristão consequente, com a chama da sua fé ardendo até ao final da sua vida, vivida em dignidade e austeridade absoluta”.

“No coração do mundo, diante do olhar de Deus e dos homens, num humilde e gozoso acto de fé, levantámos uma imensa mole de matéria, fruto da natureza e de um incomensurável esforço de inteligência humana, construtora desta obra de arte”, assinalou ainda.

Para Bento XVI, esta obra é um “sinal visível do Deus invisível” e une “a realidade do mundo e a história da salvação”.

Gaudí, precisou, “introduziu pedras, árvores e vida humana dentro do templo, para que toda a criação convirja para o louvor divino, mas ao mesmo tempo colocou fora os retábulos, para pôr diante dos homens o mistério de Deus, revelado no nascimento, paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo”.

O arquitecto catalão, acrescentou, cumpriu “uma das tarefas mais importantes de hoje, superar a cisão entre consciência humana e consciência cristã”.

“A beleza é a grande necessidade de homem, é a raiz da qual brota o tronco da nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convida à liberdade e arranca do egoísmo”, assegurou Bento XVI.

O Papa deixou uma nota pessoal, confessando a sua “alegria” pelo facto de a basílica estar ligada à “figura de São José”, com quem partilha o nome (Joseph, ndr).

A primeira intervenção em Barcelona concluiu-se em catalão, com uma evocação a Nossa Senhora, pedindo que “os pobres possam encontrar misericórdia, os oprimidos alcançar a verdadeira liberdade e todos os homens se revistam da dignidade de filhos de Deus”.

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