Bento XVI: Breves apontamentos

João Aguiar Campos, Diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Igreja

O pontificado de Bento XVI nasceu sobre o signo da desconfiança e dos preconceitos de todos conhecidos. Por isso, mesmo quando os seus atos e palavras começaram a desmentir quanto cada um julgava saber, os juízos já formatados não se diluíram de todo. Basta, aliás, consultar meia dúzia de recortes ou extratos de noticiários radiofónicos ou televisivos para encontrarmos, colados à sua pessoa, rótulos depreciativos. No entanto, desde os primeiros instantes do seu pontificado, o Papa quis deixar clara a vontade de respeitar os profissionais da comunicação social. Assim o declarou em 23 de abril de 2005, discursando perante os representantes dos media reunidos em Roma — afirmando ter como modelo o diálogo aberto e sincero de João Paulo II. Mas também desde logo deixando claro que «para que os instrumentos de comunicação social possam prestar um serviço positivo ao bem comum, é preciso uma contribuição responsável de todos e de cada um».

Para a linha da frente deste esforço chamou os meios católicos, desafiando os seus profissionais a serem fiéis a esta identidade «de modo explícito e substancial, mediante o empenho diário de percorrer o caminho da verdade». Esta – disse-lhes – deve ser procurada «com mente e coração aberto, mas também com o profissionalismo de operadores competentes e dotados de meios adequados» (Vd Discurso aos participantes no Congresso Internacional da Imprensa Católica, 7 de outubro de 2010). Antes, em 20 de junho de 2008, já tinha pedido às rádios católicas que estejam ao serviço da Palavra: «As palavras que diariamente transmitis são um eco da Palavra eterna que se fez carne». Lançou, então, uma ideia-força que haveria de ecoar noutros textos e, sobretudo, nas mensagens para as celebrações do Dia Mundial das Comunicações Sociais, de 2006 a 2013, apoiando-se na Redemptoris Missio (n.37): «Não basta usar os meios (…), mas convém integrar a mensagem na “nova cultura” criada pela comunicação moderna».

Bento XVI nunca quis uma comunicação desencarnada. Pelo contrário, reivindicou perante os responsáveis dos meios de comunicação social da igreja italiana (em 2 de junho de 2006) um trabalho jornalístico que vá além do abstrato ou puramente intelectual, para estar atento «aos numerosos aspetos da vida concreta de um povo, aos seus problemas, necessidade e esperanças»; defendendo permanente diálogo entre fé e cultura. Uma e outra, indubitavelmente marcadas pelas novas tecnologias e suas consequências antropológicas.

«O papel que os instrumentos de comunicação assumiram na sociedade é já considerado parte integrante da questão antropológica, que surge como desafio crucial do terceiro milénio» — escreveu o Papa na Mensagem para o Dia Mundial da Comunicações Sociais de 2008. Exortou, por isso, à necessidade de uma reflexão em torno desta matéria, dentro e fora da Igreja. Logicamente, à Assembleia Plenária do Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais pôs, em fevereiro de 2011, perguntas claras: «Que desafios coloca à fé e à teologia o chamado pensamento digital? Quais as suas perguntas e exigências?». É que, como lembra na Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais/2013, «a cultura das redes sociais e as mudanças e estilos da comunicação colocam sérios desafios àqueles que querem falar de verdade e de valores», tendo em conta a sua vocação de fatores de desenvolvimento humano. Porque nada disto se consegue, porém, sem esforço, Bento XVI defendeu a necessidade de «educar-se em comunicação». O que, no seu ponto de vista, implica «aprender a escutar, a contemplar, para além de falar» (Mensagem de 2012).É que «também na era digital, cada um vê-se confrontado com a necessidade de ser pessoa autêntica e reflexiva» (Mensagem 2011).

 Difícil? Exigente? Pois sim. Nada, porém, pode servir de piedosa desculpa para os que temem os riscos; porque o mandato é evidente: «Ide por todo o mundo e proclamai o Evangelho a toda a criatura» (Mt 16,15). Sem descurar meios e linguagens.

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