Bento XVI: Aura Miguel diz que saída «humilde» de Joseph Ratzinger foi uma «mensagem» para o novo Papa

Vaticanista portuguesa considera que o último pontificado primou pela racionalidade e abertura de novas fronteiras de «diálogo»

Lisboa, 26 fev 2013 (Ecclesia) – A vaticanista Aura Miguel, da Radio Renascença, entende que a renúncia de Bento XVI encerrou sobretudo uma mensagem para o futuro da Igreja e para a necessidade de um Papa “humilde” que se deixe conduzir por Deus.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, a jornalista da emissora católica portuguesa realça que o gesto de Joseph Ratzinger, ao reconhecer a sua “quebra de vigor”, é talvez “o maior ato do seu magistério”, porque deixa explícito “que não é pela eficácia do homem sentado na Sé de Pedro que a Igreja é conduzida”, ela é orientada “através de Deus”.

“Esta mensagem também serve para o cardeal que seja eleito, de que é impossível o cargo de Papa ser levado pela força humana”, salienta a vaticanista portuguesa, que não arrisca fazer “apostas” no que diz respeito a quem irá suceder a Bento XVI.

No entanto, considera que “não foi por acaso que, à última hora, Bento XVI convocou um Consistório para criar seis novos cardeais, todos não europeus”, em novembro de 2012.

[[v,d,3816,]]Aura Miguel deixa também uma análise ao pontificado de Joseph Ratzinger, e destaca sobretudo o seu lado mais racional, em comparação com o carácter emotivo do seu antecessor, o Beato João Paulo II.

“Como Bento XVI disse na sua última audiência geral, hoje em dia para se ser cristão já não basta ter nascido num contexto religioso, de educação católica, implica ir às razões da fé, perceber o que é que vem em primeiro lugar na vida e viver isso no encontro pessoal com Cristo”, sustenta a jornalista.

A especialista em assuntos religiosos recorda também alguns gestos que marcaram o ministério do Papa alemão, na relação com a sociedade e com as outras religiões, como a deslocação ao antigo campo de concentração nazi em Auschwitz, na Polónia, em 2006, e a visita de Estado a Inglaterra, quatro anos depois.

Para Aura Miguel, a entrada de “um Papa alemão, que em jovem tinha pertencido à juventude nazi”, num local que evoca o sofrimento dos judeus às mãos da Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial, foi uma “imagem muito forte”.

Por outro lado, tratou-se também do “primeiro Papa a fazer uma vista de Estado a Inglaterra, a discursar no Parlamento em Westminster Hall, no sítio onde foi condenado Thomas More por causa do cisma de Henrique VIII”.

Na mesma viagem, Bento XVI marcou também a diferença em relação aos seus antecessores, ao “visitar a Basílica de Westminster, para beatificar o cardeal Newman, que era anglicano e se converteu ao catolicismo”, recorda a jornalista.

Aura Miguel lembra ainda o discurso do Papa em Ratisbona, na visita apostólica que realizou à Baviera, na Alemanha, em 2006.

Joseph Ratzinger citou na altura um diálogo islâmico-cristão do século XIV entre o imperador bizantino Manuel II Paleólogo e um muçulmano.

As suas palavras geraram protestos no seio da comunidade islâmica mas mais tarde Bento XVI esclareceu que o ponto principal da sua mensagem era que “não se deve converter ninguém à força”, explica a vaticanista.

Aliás, “depois de esclarecimentos sucessivos, foi muito interessante que com essa advertência, feita ao Ocidente, para que mudasse a sua atitude ou então estava ferido de morte, houve 138 líderes muçulmanos que passaram a aceitar dialogar com a Santa Sé, o incidente de Ratisbona gerou uma plataforma de diálogo que ainda hoje existe”, conclui Aura Miguel.

PTE/JCP

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top