Bens Culturais: Figura de «conservador/restaurador» em cada diocese é necessária para «preservar» património da Igreja Católica

II Jornadas da Pastoral dos Bens Culturais da Igreja apostam na formação para a conservação do património; Conselho Nacional quer elaborar «Carta de Principios» para a área

Agência ECCLESIA/HM

Lisboa, 17 out 2025 (Ecclesia) – Fátima Eusébio, diretora do Departamento Nacional dos Bens Culturais da Igreja Católica, pediu que todas as dioceses pudessem contar com um “conservador ou restaurador” para ajudar as comunidades na preservação do seu património.

“Há dioceses que têm a figura do conservador-restaurador, que se nota a diferença. O ideal seria uma pessoa que integre mesmo os quadros da diocese – o que é raro no país – que possa acompanhar estas obras, que devem passar sempre pela orientação e autorização da diocese. Nas paróquias é importante cultivar a humildade e pedir ajuda em áreas que são desconhecidas”, alerta a responsável à Agência ECCLESIA.

A responsável alerta para situações de más intervenções que põem em risco o património, chegando mesmo a destruí-lo.

“São intervenções destrutivas do património e que, como muitas dessas intervenções que não são qualificadas e não se pautam por critérios científicos – um deles que indica que as intervenções devem ser reversíveis – acabam por ser de transformação do património e de destruição, infelizmente”, adverte.

O Departamento nacional dos Bens Culturais da Igreja realiza hoje, no santuário do Cristo-Rei, as II Jornadas dedicadas ao tema da conservação e do restauro.

“Não podemos ter uma atitude de voluntarismo, com algum jeitoso que gosta de pintar, colocando em risco o património, e também não podemos consentir em realizações por parte de empresas que não têm a devida qualificação, ou outras vezes, quando têm, não se pautam pelos princípios éticos da conservação e restauro. Há ainda exemplos cuja intervenção é feita em função daquilo que é o gosto e a subjetividade do próprio responsável, normalmente o pároco ou alguém do conselho económico, que acham que um restauro é para o pôr novo”, lamenta.

Fátima Eusébio preconiza maior atenção à área dos bens culturais da Igreja na formação sacerdotal, indicando que o tempo de sinodalidade que a Igreja católica vive deve ser aproveitado em todos os seus aspetos.

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Todo o património da Igreja “deve ser valorizado”, sublinha a responsável que entende que as obras podem ser muito distintas entre si – “não são todas de primeira linha, mas todas elas são um património de fé, de uma comunidade que rezou e ali reza e merecem ser respeitadas na sua autenticidade e contexto”.

“Era muito importante resgatar a presença deste património como um instrumento de comunicação da fé, como um instrumento de evangelização, que é algo que nós temos tentado desenvolver nesta área dos bens culturais, porque essa é a essência do património – comunicar Deus, tornar realmente Deus presente, próximo e numa interação de Deus com os fiéis e dos fiéis com Deus, esta função de mediação que o património tem e que infelizmente hoje em dia é tão esquecida”, indica.

Fátima Eusébio lembra ainda a “oportunidade” que as verbas do Plano de Recuperação e Resiliência significa para a conservação do património, reconhecendo que o Património Cultural IP tem possibilitado “abrir recursos” destinando-os ao património religioso.

“Mas é importante que o Estado não esqueça o Acordo de Parceria entre Portugal e Comissão Europeia 2030. Os recursos que vêm da União Europeia devem também chegar à Igreja para recuperar o seu património e também porque cumprimos uma missão: temos um posicionamento muito relevante e disponibilizamos este património para receber os nossos turistas. O turismo religioso representa uma percentagem já muito significativa, perto dos 20%, do turismo em Portugal. Trata-se de um investimento com retorno”, centra.

Após as Jornadas da Pastoral dos Bens Culturais da Igreja hoje, o Conselho Nacional dos Bens Culturais da Igreja, pretende elaborar uma “carta de princípios sobre a conservação e o restauro dos bens culturais”.

“Trata-se de uma carta com recomendações para esta área específica, para que possa acontecer um trabalho mais uniforme, uma sensibilização e um novo olhar para esta área tão importante que é a preservação do nosso património. Já muito património se recuperou de forma qualificada, mas também já muito património foi destruído, e infelizmente não é uma prática que tenha desaparecido”, reconhece.

A conversa com Fátima Eusébio vai estar no centro do programa ECCLESIA, emitido este sábado, pelas 6h, na Antena 1.

LS

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