As dioceses têm progressivamente procurado reorganizar as comissões responsáveis pelos bens culturais. No contexto actual, a sociedade em geral e as estruturas da Igreja têm assumido uma posição manifestamente mais exigente e activa em relação ao património religioso, na perspectiva do seu enquadramento social, da sua valorização cultural e da sua utilização eclesial. De modo mais consciente, as dioceses têm progressivamente procurado reorganizar as comissões responsáveis pelos bens culturais, no sentido do reforço da sua importância enquanto agentes de intervenção nas acções de conservação, restauro e dinamização do património religioso. Neste processo, evidencia-se um contexto de crescente valorização da colaboração dos leigos, com objectivo de capitalizar as competências necessárias a uma actuação responsável e eficaz, por se tratar de uma área que se revela muito exigente e envolve questões diversificadas, de cariz técnico, financeiro e religioso. Estas exigências têm proporcionado uma aproximação entre as dioceses e os organismos do Estado, estabelecendo-se um diálogo construtivo, que tem possibilitado a concretização de projectos de inventário, de conservação e restauro, de musealização, etc. No contexto actual, esta cooperação, técnica e financeira, revela-se crucial para que seja possível o desenvolvimento de acções em todas as dioceses com vista à salvaguarda do património, que necessariamente se devem pautar pelo rigor e exigência. Neste diálogo, afigura-se premente encontrar soluções para agilizar as respostas aos projectos de intervenção, nomeadamente em edifícios classificados, bem como uma actuação do Estado mais célere e vigilante na conservação e realização de obras nos imóveis a que legalmente está obrigado. Nas comunidades eclesiais presencia-se uma progressiva recuperação na utilização da linguagem artística e do património imaterial (lendas, tradições) na acção pastoral e no anúncio do Evangelho. A materialidade e a forma dos objectos artísticos encerram experiências de fé e a mensagem da Palavra de Deus, pelo que a sua valorização passa pelo reconhecimento da sua importância na missão evangelizadora e pelo seu aproveitamento nas acções de catequese e na liturgia. A formação dos seminaristas e a formação contínua dos sacerdotes constitui também um dos desafios que se coloca à Igreja, pela necessidade de aquisição de conhecimentos mais sólidos nas áreas da história da arte, da preservação e da correcta utilização dos bens culturais. Para a sociedade em geral, o património religioso constitui um marco incontornável na compreensão das dinâmicas culturais, sociais e estéticas, de diferentes espaços e tempos, justificando a crescente procura de propostas turísticas com esta vertente específica. A Igreja tem procurado acolher os visitantes nos espaços religiosos, procurando sempre salvaguardar a vocação cultual, não obstante as dificuldades sentidas para assegurar a abertura de muitos imóveis por imperativos de segurança. Através da articulação com projectos de desenvolvimento local, alguns dos quais se encontram a ser financiados pelos fundos do QREN (Quadro de Referência Estratégico), a Igreja poderá potenciar as visitas aos espaços religiosos e encontrar novas fontes de financiamento para as intervenções de conservação e restauro e para a contratação de vigilantes, promovendo a fixação das comunidades nas zonas rurais e aumentando a sua qualidade de vida. A abertura da Igreja à sociedade civil tem proporcionado a utilização de alguns dos espaços religiosos para a realização de eventos culturais, como os concertos musicais, concorrendo, assim, para a valorização cultural das comunidades. A disponibilização dos catálogos on-line por parte de algumas dioceses evidencia o desejo de valorização e divulgação do património, mas também é revelador do desejo de partilha e do contributo para o avanço da educação, das pesquisas e da investigação. O património documental tem igualmente sido objecto de especial atenção, com a preparação de projectos para a instalação de arquivos com as devidas condições de acondicionamento e conservação e de disponibilização aos interessados da consulta dos documentos. São claramente desiguais os ritmos de implementação das acções de salvaguarda nas várias dioceses, contudo, o reconhecimento assumido da sua importância justifica que se presencie um aumento de projectos sólidos e criteriosos, com alcance cultural e pastoral, em áreas como o inventário, a instalação de museus, a preservação do património documental, as intervenções de conservação e restauro, etc. A colaboração entre as dioceses e destas com os organismos oficiais do Estado e com o Secretariado Nacional dos Bens Culturais da Igreja, a par de um maior envolvimento das estruturas diocesanas e das comunidades, revela-se fundamental para que, a nível nacional, se generalize e afirme uma efectiva cultura de salvaguarda dos bens culturais da Igreja. Maria de Fátima Eusébio Departamento dos Bens Culturais da Diocese de Viseu