Pe. Agostinho França, religioso paulista
O turismo social e religioso tornou-se um fenómeno característico da nossa época. Segundo estatísticas da Organização Mundial do Turismo (OMT), cifraram-se em 980 milhões as chegadas turísticas internacionais em 2011. Prevê aquele organismo que este ano os números subirão para mil milhões, atingindo dois mil milhões em 2030. No âmbito estritamente religioso, todos os anos, 300 milhões de peregrinos procuram os lugares santos. Entre eles, a Terra Santa, Roma e o Vaticano, Assis, os santuários de Fátima, Lourdes, Santiago de Compostela, Czestochowa, mosteiros e museus de arte religiosa. Ainda segundo a organização referida, as peregrinações pela fé geram todos os anos 18 mil milhões de dólares. Estudos referem que a maioria dos peregrinos são mulheres (57%), tendo entre os 51-65 anos (42%), são reformados (18%), movem-se impulsionados pela fé (68%) e na grande maioria experimentam emoções fortes durante a peregrinação (90%), sobretudo nos momentos de oração (21%). As estatísticas indicam que muitos, depois de uma peregrinação, voltam a frequentar os sacramentos e a aprofundar a própria fé.
Peregrinar é sair da rotina de cada dia para se pôr a caminho rumo às fontes do sagrado e de uma libertação interior. A história do povo de Deus, no Antigo e Novo Testamento, está fortemente marcada pela peregrinação. Assim fez Abraão, deixando a sua terra para peregrinar para a terra de Canaan; o povo de Deus saiu do Egito e tornou-se um povo nómada, para encontrar Deus na Terra da Promessa. O próprio Jesus se fez peregrino para revelar aos homens o caminho que leva ao Pai. Na sua senda enfileiram-se os Apóstolos e todos os Discípulos; São Paulo e todos os “missionários” da Palavra de Deus; o Papa Bento XVI, que frequentemente se põe a caminho para confirmar na fé os seus irmãos; os sacerdotes, agentes da Pastoral, Catequistas e outros cristãos que organizam grupos de peregrinos para rumarem aos lugares santos da Fé, mosteiros, igrejas e museus de arte religiosa ou para participarem nas manifestações festivas e populares da nossa fé.
O turismo religioso proporciona a muitos cristãos momentos de convivência e catequese. Segundo um guia de Florença, os turistas japoneses, ao visitarem alguns monumentos, igrejas e museus daquela cidade, recebem mais catequese numa semana do que em toda a sua vida no Japão. O VII Congresso Mundial da Pastoral do Turismo reconheceu que «o património histórico-cultural religioso pode e deve estar ao serviço da nova evangelização, principalmente quando fala a linguagem da beleza». O próprio Papa afirmou que estas manifestações artísticas «são autênticos caminhos para Deus, a Beleza suprema; mais ainda, são uma ajuda para crescer na relação com Ele, na oração. São obras que nascem da fé e exprimem a fé» (Audiência Geral, 31 de agosto de 2011).
Um Sacerdote, que reúna os seus paroquianos e os acompanhe aos lugares da fé, consegue realizar em oito dias uma catequese (de adultos) que o ocuparia durante mais tempo na paróquia para obter o mesmo resultado. A este benefício somam-se ainda a união e amizade conseguidas entre os fiéis e uma vivência e animação de fé que pode dar muitos frutos na vida comunitária.
A Conferência Episcopal Portuguesa determinou, no passado mês de maio, a criação da Obra Nacional da Pastoral do Turismo. Para que este setor «favoreça todas as partes, não apenas quem vai, mas também quem recebe os vários intervenientes”, declarou à Família Cristã o Pe Carlos Godinho, diretor daquele organismo. Com efeito, «ao visitar os destinos turísticos religiosos, o visitante deveria poder experimentar a “via pulchritudinis” em três âmbitos concretos: a beleza do espaço, a beleza da liturgia e a beleza da caridade e das relações humanas, que se expressa, entre outras coisas, no acolhimento que devemos oferecer-lhe» – foi ponto assente do Congresso atrás referido.
Pe. Agostinho França
religioso paulista