“Bendito o que vem em nome do Senhor!”

Padre Hugo Gonçalves, Diocese de Beja

A Diocese de Beja aguarda com alegria e esperança o Sr. D. Fernando Maio de Paiva, Bispo eleito desta Diocese e une-se à Diocese irmã de Setúbal, na qual D. Fernando serviu como membro do seu presbitério, em oração e louvor a Deus por ter escolhido este seu servo para dar a sua vida nesta porção da vinha do Senhor, como sucessor dos Apóstolos.

Encontramo-nos a poucos dias da sua ordenação episcopal e tomada de posse desta Diocese – será no dia 07 de Julho – e todos os que estão envolvidos na preparação deste acontecimento único, vivem-nos num misto de ansiedade e jubilo, procurando dar o seu melhor para que o Sr. D. Fernando se sinta acolhido, bem como todos os que o acompanham. A última ordenação episcopal que se realizou nesta Diocese transtagana  deu-se no ano de 1956; nesse ano foi ordenado Bispo, o Sr. D. António Cardoso Cunha, para Bispo Auxiliar do então Bispo de Beja, D. José do Patrocínio Dias, o Bispo soldado.

São muitos os desafios que se vão colocar ao novo Bispo de Beja. O primeiro deles, que é hoje transversal a todas as dioceses, é a falta de vocações ao sacerdócio e o envelhecimento do presbitério. Contrariar esta realidade passará por um novo impulso e colaboração entre os setores da pastoral juvenil, do ensino superior e vocacional – sabemos que muitas das vocações surgem hoje na juventude e em particular no sector do ensino superior. Outro desafio é o de reanimar a vida pastoral da Diocese de Beja, dando um novo impulso e animo aos vários serviços diocesanos da pastoral, para que possam melhor servir a Diocese. É fundamental animar os agentes da pastoral, quer diocesana, quer paroquial, os quais enfrentam no dia-a-dia grandes desafios: o da desertificação populacional, o do afastamento ou indiferença de grande parte das pessoas, sobre tudo os mais jovens. Neste sentido será importante uma maior ação/intervenção no campo da pastoral familiar, acompanhando os jovens casais e a jovens famílias, respondendo às suas dificuldades concretas, quer no âmbito da educação dos filhos, quer nos enormes desafios que encontram numa sociedade secularizada e tantas vezes adversa  aos valores cristãos – acompanhamento espiritual e formação serão possíveis e necessárias vias para os ajudar. Também urge atender ao sector da catequese, tão fundamental na formação de crianças, adolescentes, jovens e adultos, mantendo aquilo que de bem já se faz, mas explorando novos caminhos para levar o Evangelho àqueles que procuram de coração sincero o Senhor – não deverá existir medo em inovar, mesmo que isso possa estar sujeito a fracassos pontuais, que sempre ajudarão a crescer, a aprender e a continuar. Talvez um grande desafio, que exigirá tempo, diálogo entre pastor, clero e leigos, é o de se repensar e redesenhar a paróquia com vista a uma mais fecunda vida pastoral, não só porque o número de presbíteros é reduzido e estes gastam-se correndo de paróquia para paróquia, não conseguindo muitas vezes mais do que a manutenção da vida nas mesmas, mas porque é importante que os leigos possam participar mais ativamente na vida da paróquia, não para suprir a falta de padres, mas para fazerem aquilo que lhes é devido por direito. Também é importante trazer ‘sangue novo’ para as diversas estruturas diocesanas – já o Santo Papa João Paulo II sublinhava a importância dos jovens na vida da Igreja, ideia continuada por Bento XVI e agora mais vincada com o Papa Francisco. Por vezes a cristalização da vida pastoral também se deve a serem sempre os mesmos, ano após ano, década após década, a contribuir com ideias que a dado momento estão longe das necessidades e da realidade – é fundamental ouvir os jovens, haver ‘sangue novo’ com ideias novas.

Este é também o momento de dar graças a Deus pelo Sr. D. José João dos Santos Marcos, atualmente Administrador Apostólico da Diocese de Beja, que há pouco celebrou o seu 50º aniversário de ordenação presbiteral, agradecendo os anos que esteve connosco, primeiro como Bispo Coadjutor e depois como Bispo residencial. Infelizmente o AVC que teve logo nos seus primeiros meses como Bispo de Beja, dificultou-lhe a sua vida como pastor desta grei, mas que nunca lhe diminuiu o seu amor e a sua entrega a esta pequena porção da Igreja que o Senhor lhe confiou. Foram muitos os desafios e dificuldades que enfrentou – alguns dos quais já explanados naqueles que serão também para o novo Bispo de Beja – aos quais se somaram os sofrimentos que são fruto de contrariedades que foram surgindo pelo caminho, fruto de terceiros, e que soube abraçar com humildade, amor e resiliência, nunca sucumbindo ao rancor ou ressentimento para com aqueles que lhe impuseram mais peso à cruz que já tinha de carregar; pelo contrário, quem conviveu com ele e teve conhecimento desse peso a mais na cruz, sempre notou no Sr. D. João Marcos as virtudes da clemencia e da misericórdia.

Gratos estamos ao Senhor pelo pastor que nos deixa e pelo pastor que nos dá – “Bendito aquele que vem em nome do Senhor!”

 

Pe. Hugo Gonçalves

Diocese de Beja

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