D. Carlos Azevedo apela à mobilização individual e à superação de interesses particulares
D. Carlos Azevedo, presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social, considera que a avaliação de grandes projectos, por parte do Estado, deve ter em conta o bem de todos e não apenas interesses particulares
“Decidir um aeroporto, decidir uma auto-estrada, decidir a compra de um determinado bem, isso deve ter como grelha de análise se contribui ou não para o bem comum de um país, de uma autarquia, de uma determinada zona ou de uma família”, defende.
Em declarações ao programa da Igreja Católica na Antena 1, o Bispo auxiliar de Lisboa, considera que “é fundamental que, no meio de toda a crise, de toda a situação social que neste momento se está a viver, haja um princípio” mobilizador que oriente cidadãos e instituições.
O presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social indica a necessidade de uma “mudança de mentalidade, de estilo de vida, que exigirá uma pedagogia muito grande”. Para isso, conta com instituições que já existem e também com “a comunicação social da Igreja e os organismos diocesanos”.
Segundo este responsável, a construção do bem comum é uma tarefa de cada um, sem delegar no Estado ou na Igreja aquilo que cada um pode fazer. “Muitas vezes os interesses pequenos, privados, até os direitos individuais, acabam por dominar os problemas e o debate e as pessoas esquecem aquilo que é o bem comum”, aponta.
“A nossa análise é sempre mais larga do que a visão egoísta”, diz ainda.
D. Carlos Azevedo convida a “integrar este bem comum de que todos beneficiamos”, porque, alerta, “com o egoísmo multiplicado não conseguimos o bem que desejamos”.
Passo a passo
O Centro Social Bairro 6 de Maio (Amadora), das Irmãs Dominicanas do Rosário, é um exemplo de busca de respostas às várias necessidades num espaço carenciado, como explica a sua subdirectora, Liliana Ferreira: “Habitação, salubridade, necessidades económicas, outras que vamos tirando do contacto com as pessoas”.
Para esta responsável, é importante “trabalhar as famílias a outros níveis”, valorizando a escolarização e o trabalho.
Susana Ferro, do gabinete de apoio social, diz que são vários os entraves para a inserção, a começar pelo facto de muitas pessoas “não saberem ler ou escrever”.
A directora pedagógica do Centro Social, Maria João Andrade, não esconde as dificuldades, mas enaltece os bons resultados, sendo “insistentes e persistentes” para “conseguir atingir os nossos objectivos.
Na periferia de Lisboa, crianças e adolescentes são acompanhados no seu crescimento pessoal e escolar, ganhando a sua confiança e procurando promover a sua integração.
Superar preconceitos
O Primeiro-sargento Vasconcelos, do presídio militar de Tomar, é adjunto do Capelão, fazendo parte do conselho pastoral do estabelecimento. Na sua acção procura “incluir os reclusos”. O seu esforço na construção do bem comum dá-lhe a certeza de que é preciso “muito mais gente” para o levar por diante.
“Não são os reclusos que nos metem medo, é o que lhes acontece quando são lançados na sua vida normal, no seu meio, no seu habitat”, indica, acrescentando que “lamentavelmente, a mentalidade das pessoas é a de apontar o dedo”.
Os esforços do conselho pastoral do estabelecimento são conjugados com as os das paróquias, procurando formar um grupo que se desloque para ver o trabalho dos reclusos.
“Estas pessoas são válidas”, sublinha o Primeiro-sargento Vasconcelos. Dentro dos estabelecimentos prisionais, desempenham “um trabalho que, depois, pode ser aproveitado na sociedade”.
