Visita a Lovaina marcada pelo trabalho desenvolvido em favor dos refugiados e questões do reitor sobre abusos, direitos das mulheres e pessoas homossexuais
Lovaina, Bélgica, 27 set 2024 (Ecclesia) – O Papa visitou hoje a Universidade Católica de Lovaina, na Bélgica, nos 600 anos da instituição, pedindo que o mundo académico alargue “fronteiras”, contrariando discursos “sectários” e de exclusão.
“Sejam protagonistas na criação de uma cultura de inclusão, de compaixão, de atenção para com os mais fracos e para com os grandes desafios do mundo em que vivemos”, disse, num encontro com docentes universitários da ‘Katholieke Universiteit Leuven’.
Francisco elogiou o trabalho desenvolvido pela instituição ao “acolher tantos refugiados que são forçados a fugir das suas terras, no meio de inúmeras inseguranças, enormes dificuldades e, por vezes, sofrimentos atrozes”.
“Enquanto alguns apelam ao reforço das fronteiras, cada um dos que aqui se encontram, como comunidade universitária, alarga as fronteiras, abre os braços para acolher estas pessoas marcadas pela dor, ajudando-as a estudar e a crescer”, declarou.
É disto que precisamos: uma cultura que alargue as fronteiras, que não seja sectária nem se coloque acima dos outros, mas pelo contrário, que esteja na massa do mundo, introduzindo nela um bom fermento, que contribua para o bem da humanidade”.
Francisco defendeu que a primeira tarefa da Universidade é “oferecer uma educação integral para que as pessoas tenham as ferramentas necessárias para interpretar o presente e planear o futuro”.
“Gostaria de lhes dirigir um simples convite: alarguem as fronteiras do conhecimento! Não se trata de multiplicar as noções e as teorias, mas de fazer da formação académica e cultural um espaço vivo, que englobe a vida e fale à vida”, apelou.
O Papa desejou que cada universidade possa tornar-se “um espaço aberto ao homem e à sociedade”, alertando para uma “cultura marcada pela renúncia à busca da verdade” e pelo “racionalismo sem alma” que é marcado por uma “cultura tecnocrática”.
“No cansaço do espírito, ficamos mais fascinados por uma vida superficial que não se põe demasiadas questões; tal como nos sentimos mais atraídos por uma fé fácil, leve, confortável, que nunca questiona nada”, advertiu.
Francisco foi recebido pela reitora da Universidade ‘UCLouvain’, Françoise Smets, pelo arcebispo de Malines-Bruxelas, D. Luc Terlinden, também grão-chanceler da Universidade, e responsáveis políticos.
Luc Sels, reitor da ‘Katholieke Universiteit Leuven’, dirigiu-se aos presentes, alertando para o “medo” dos estrangeiros, convidando todos a uma “abertura criativa” em relação aos que podem parecer “diferentes” em termos de religião, ideologia política, cultura ou origem.
“O refugiado bate à nossa porta. O som persistente da sua batida é cru e penetrante. Abrimos-lhe a porta?”, questionou.
Sels sublinhou que a Igreja está a braços com uma “tarefa imensa”, após o “choque dos abusos sexuais e a forma como foram tratados”.
“Para restaurar, pelo menos um pouco, a confiança que foi quebrada, é necessário um diálogo honesto, empenhado e cordial com as vítimas, reconhecendo abertamente os erros cometidos”, apontou.
O reitor da KUL sustentou que a autoridade da Igreja depende também “da medida em que ela se adapta à diversidade da sociedade”.
“Por que razão toleramos este enorme fosso entre homens e mulheres numa Igreja que é tantas vezes dirigida de facto por mulheres?”, questionou.
O responsável assinalou que, com o Sínodo sobre a Sinodalidade, “no qual as mulheres estão a participar plenamente pela primeira vez”, o Papa “colocou na ordem do dia a importante questão de como a Igreja pode preservar a sua unidade na diversidade e encorajou a discordância construtiva no seio da Igreja”.
“Não ganharia a Igreja em autoridade moral, nas nossas regiões, se não tratasse a questão da diversidade de género de forma tão rígida e se, tal como a universidade, mostrasse mais abertura em relação à comunidade LGBTQ+?”, acrescentou.
Durante a sessão foi projetado um vídeo sobre a assistência aos refugiados e testemunhos em vídeo de alguns dos próprios.
No final, o Papa deslocou-se à Reitoria para cumprimentar alguns jovens refugiados.
O programa prevê um passeio de carrinho de golfe entre os presentes, dirigindo-se à praça principal de Lovaina para saudar as cerca de 20 mil pessoas presentes.
OC
Notícia atualizada às 18h45