Francisco elogia trabalho dos centros de acolhimento para vítimas
Koekelberg, Bélgica, 28 set 2024 (Ecclesia) – O Papa assumiu hoje na Bélgicas as “feridas” provocadas pelos casos de abusos sexuais na Igreja, falando perante representantes das comunidades católicas.
“Os abusos geram sofrimentos e feridas atrozes, minando até mesmo o caminho da fé”, disse, na Basílica do Sagrado Coração de Jesus em Koekelberg, a cerca de 10 minutos de Bruxelas.
Francisco pediu que todos sintam “misericórdia, para não ficar com um coração de pedra diante do sofrimento das vítimas”.
“Temos de fazer sentir a nossa proximidade e oferecer toda a ajuda possível, para aprender com elas a ser uma Igreja que se torna serva de todos sem subjugar ninguém”, acrescentou.
Segundo o Papa, “uma das raízes da violência é o abuso de poder”, que leva a “esmagar ou manipular os outros.
Francisco falava após ter ouvido vários testemunhos de responsáveis católicos, entre eles o de Mia De Schamphelaere, representante dos centros de acolhimento para vítimas de abuso na Flandres.
A responsável recordou a “primeira grande crise”, com confissão de abusos por parte de um bispo, Roger Vangheluwe, da Diocese de Bruges, que Bento XVI retirou do cargo, em 2010, após o próprio ter confessado os crimes.
Já em março deste ano, o Papa determinou a demissão do estado clerical do antigo bispo, permitindo que o caso voltasse a ser investigado, mesmo após ter prescrito, face à chegada de novos elementos ao Dicastério para a Doutrina da Fé (Santa Sé).
Mia De Schamphelaere disse que visibilidade deste caso gerou uma “enxurrada de queixas de vítimas que testemunharam, por vezes pela primeira vez nas suas vidas, que tinham sido abusadas em tenra idade por um padre ou religioso”.
“Como muitos cidadãos, sentimos horror, tristeza e impotência. Também ficámos chocados e envergonhados enquanto crentes. Tivemos a oportunidade de transformar a raiva e a dor em ajuda concreta”, relatou.
Gostaria de dizer à Mia: obrigado pelo grande trabalho realizado para transformar a raiva e a dor em ajuda, proximidade e compaixão”.
O Papa falou também do trabalho que a Igreja Católica leva a cabo nas prisões, sublinhando a necessidade de “misericórdia”.
“Quanto entrou numa cadeia, pergunto-me: por que eles e não eu?”, disse.
Francisco admitiu que é preciso “seguir todos os percursos da justiça terrena e os trâmites humanos, psicológicos e penais”, mas sustentou que “a pena deve ser um remédio, deve levar à cura”.
À sua chegada, o Papa foi acolhido – na entrada principal da Basílica – pelo presidente da Conferência Episcopal Belga, D. Luc Terlinden, arcebispo de Malines-Bruxelas, que agradeceu a visita ao país.
No final do encontro, após a bênção e o cântico final, Francisco cumprimentou algumas pessoas com deficiência e dirigiu-se à entrada da Basílica para saudar as autoridades locais e os sacerdotes.
OC