Primeiro discurso em Bruxelas sublinha necessidade de pontes entre civilizações, perante cenário de novo conflito mundial
Bruxelas, 27 set 2024 (Ecclesia) – O Papa apelou hoje à união da Europa para travar o “inverno demográfico” e o “inferno da guerra”, que classificou como “duas calamidaes”, falando perante responsáveis políticos e representantes da sociedade civil, em Bruxelas.
“Como é grande a pequena Bélgica! Percebe-se como a Europa precisa dela para se lembrar da sua história, feita de povos e culturas, de catedrais e universidades, de conquistas do engenho humano, mas também de muitas guerras e de uma vontade de domínio que, por vezes, se converteu em colonialismo e exploração”, indicou, falando no Castelo de Laeken, residência oficial da família real belga.
“Estamos perto de uma guerra… quase mundial”, advertiu.
No primeiro discurso da viagem ao país, iniciada na noite de quinta-feira, Francisco evocou a história da II Guerra Mundial (1939-1945) e o processo que levaria à criação da União Europeia, num “sério caminho de pacificação, colaboração e integração”.
A Bélgica, sublinhou, “surgiu como lugar ideal, quase uma síntese da Europa, de onde partir para a sua reconstrução, física, moral e espiritual”.
“Poder-se-ia dizer que a Bélgica é uma ponte: entre o continente e as ilhas britânicas, entre as regiões germânicas e francófonas, entre o sul e o norte da Europa. Uma ponte para permitir a expansão da concórdia, fazendo retroceder os conflitos”, declarou.
“Uma ponte que favorece as trocas comerciais, estabelece a comunicação e faz dialogar as civilizações”, acrescentou.
Um lugar onde se aprende a fazer da própria identidade não um ídolo ou uma barreira, mas um espaço hospitaleiro de onde partir e aonde regressar, onde promover intercâmbios válidos e procurar juntos novos equilíbrios, construir novas sínteses”.
O Papa alertou para as lições da história, quando “se começa a não respeitar as fronteiras e os tratados e se atribui às armas a criação do direito”.
A intervenção apelou ao desenvolvimento de uma “ação cultural, social e política constante e oportuna, corajosa e ao mesmo tempo prudente, que exclua um futuro em que a ideia e a prática da guerra voltem a ser uma opção viável, com consequências catastróficas”.
“Rezo para que os dirigentes das nações, ao olharem para a Bélgica e para a sua história, saibam aprender com ela e poupem assim os seus povos de desgraças e lutos sem fim. Rezo para que os governantes saibam assumir a responsabilidade, o risco e a honra da paz e saibam afastar o perigo, a ignomínia e o absurdo da guerra”, insistiu.
Francisco foi saudado pelo rei e pelo primeiro-ministro da Bélgica, após ter-se encontrado em privado com os monarcas, Filipe e Matilde.
Esta tarde, pelas 16h00 (menos uma em Lisboa), o Papa visita a Universidade Católica de Lovaina, que celebra os 600 anos de fundação, para um encontro com docentes e jovens refugiados, acolhidos num centro de acolhimento.
Às 17h30, Francisco visita a praça do Mercado de Lovaina, em carro aberto, para saudar cerca de 20 mil pessoas.
OC
No sábado, o Papa desloca-se à Basílica do Coração de Jesus em Koekelberg, a 10 quilómetros de Bruxelas, a quinta maior igreja do mundo, para um encontro com membros do clero, de institutos religiosos e agentes pastorais, no qual vai intervir um representante do centro de acolhimento para vítimas de abusos.
Às 16h00 (menos uma em Lisboa), Francisco regressa a Lovaina, onde se vai encontrar com os estudantes da Universidade Católica, na Aula Magna; após o encontro, o Papa visita o Colégio de São Miguel, para um encontro privado com os membros da Companhia de Jesus (Jesuítas). A viagem, que se iniciou esta quinta-feira no Luxemburgo, encerra-se no domingo, pelas 09h00, com a Missa de beatificação de Ana de Jesus, no Estádio Rei Balduíno, onde se esperam cerca de 35 mil pessoas. Desde a sua eleição, em 2013, o atual pontífice fez 46 viagens internacionais, tendo visitado 66 países, incluindo Portugal (2017 e 2023). |
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