Papa abordou crise que atingiu comunidades católicas, deixando palavra de perdão às vítimas, na Missa conclusiva da viagem
Bruxelas, 29 set 2024 (Ecclesia) – O Papa presidiu hoje à Missa conclusiva da sua viagem à Bélgica, perante cerca de 35 mil pessoas, no Estádio Rei Balduíno, onde deixou uma forte condenação dos abusos sexuais e do seu encobrimento.
“Na Igreja há lugar para todos, todos, todos, mas todos seremos julgados, e não há lugar para abusos, não há lugar para o encobrimento de abusos. Peço a todos que não encubram os abusos, peço aos bispos que não encubram os abusos, que condenem os abusadores e os ajudem a curar-se desta doença” disse, na homilia da celebração.
Sob os aplausos da multidão, Francisco evocou os menores que foram “escandalizados, atingidos, abusados por aqueles que deveriam ter cuidado deles”.
“Relatos de dor, de desamparo, em primeiro lugar das vítimas, mas também das suas famílias e da comunidade em geral”, acrescentou.
O Papa recordou o encontro privado que teve com um grupo de 17 vítimas, na noite de sexta-feira, durante cerca de duas horas, na Nunciatura Apostólica de Bruxelas.
“É um abuso sexual, um abuso de poder, um abuso de consciência contra aqueles que são mais fracos, e quantos casos de abuso temos na nossa história, na nossa sociedade”, observou.
O mal não pode ser escondido, o mal deve ser trazido à luz do dia, deve ser conhecido, como fizeram alguns dos abusados, e com coragem, deve ser conhecido e o abusador deve ser julgado. Que o abusador, seja ele leigo, leiga, padre ou bispo, seja julgado”.
O Papa assumiu que estes casos provocaram uma crise de “credibilidade”, convidando todos a reconhecer-se como “pecadores”.
“As pessoas abusadas são um lamento que sobe ao céu, que toca a alma, que nos envergonha e nos chama à conversão. Não lhes obstruamos a voz profética, silenciando-a com a nossa indiferença”, acrescentou.
A homilia de Francisco convidou a comunidade católica a cumprir a sua missão com “humildade, gratidão e alegria”.
O Papa advertiu contra o egoísmo, que “esmaga os pequenos, humilhando a dignidade das pessoas e abafando o clamor dos pobres”.
“O único caminho da vida é o do dom, do amor que une na partilha. O caminho do egoísmo gera apenas fechamentos, muros e obstáculos – escândalos, portanto – que nos acorrentam às coisas e nos afastam de Deus e dos irmãos”, alertou.
Quando, na base da vida das pessoas e das comunidades, se colocam apenas os princípios do interesse próprio e da lógica do mercado, cria-se um mundo onde já não há lugar para quem está em dificuldade, nem misericórdia para quem erra, nem compaixão para quem sofre e não aguenta mais”.
No início da Missa, o Papa beatificou a religiosa Ana de Jesus (1545-1621), ligada à reforma do Carmelo.
“Numa época marcada por dolorosos escândalos, tanto dentro como fora da comunidade cristã, ela e as suas companheiras, com uma vida simples e pobre feita de oração, trabalho e caridade, conseguiram trazer de novo tantas pessoas à fé a ponto de alguém descrever a sua fundação nesta cidade como um íman espiritual”, declarou.
Anna de Lobera Torres nasceu em Medina del Campo (Castela) a 25 de novembro de 1545 e morreu em Bruxelas a 4 de março de 1621; em 1570, com o nome religioso de Ana de Jesus, foi recebida em Ávila pela própria Santa Teresa, no primeiro mosteiro da reforma do Carmelo.
No final da Missa, antes da recitação do ângelus, o Papa agradeceu aos reis da Bélgica e aos grão-duques do Luxemburgo “pela sua presença e pelo acolhimento” na viagem, que se iniciou esta quinta-feira, na capital luxemburguesa.
“Obrigado a todos! E sigamos em frente, a caminho, com esperança”, concluiu.
OC