Beja: «Vamo-nos tornar uma minoria no nosso próprio território», afirmou D. Fernando Paiva sobre a chegada de imigrantes à diocese

D. Fernando Paiva referiu-se ao cante alentejano que «enche a alma», disse que a organização da Igreja tem «várias situações que precisam de uma atenção especial» e alertou para a «guetização» de alguns grupos

Foto Agência ECCLESIA/PR, D. Fernando Paiva

Lisboa, 22 dez 2024 (Ecclesia) –O bispo de Beja disse que a diocese tem “questões estruturais”  que “precisam de ser cuidadas”, alertou para  a existência de redes de tráfico humano, para a “guetização” de comunidades imigrantes que, em certas zonas, são “tantos ou mais” do que os residentes.

“Nalgumas zonas da diocese já se percebe que os que estão a chegar são tantos ou mais do que os residentes. Então, o que está a acontecer, ou vai acontecer muito em breve: vamo-nos tornar uma minoria no nosso próprio território”, afirmou D. Fernando Paiva em entrevista à Agência ECCLESIA e à Renascença.

O bispo de Beja alertou para as alterações em termos de “configuração religiosa”, não apenas “em termos meramente demográficos”.

“A figura do não praticante é muito forte, é muito corrente. Enquanto que os asiáticos, sejam os muçulmanos, siques, hindus, e mesmo também os católicos que vêm, que acabam por ser uma minoria, têm uma outra atitude relativamente ao sagrado. A figura do não praticante não é muito comum nestes povos, nesta gente que está a chegar assim ao nosso território”, afirmou.

Para D. Fernando Paiva, referiu-se à transformação social no território, nomeadamente na cidade de Beja, onde as “pessoas que vêm sobretudo da Ásia são uma presença já muito significativa”.

“Quando passamos pela rua, vemos muita gente, até porque, como são pessoas que muitas vezes vivem situações precárias do ponto de vista da habitação, acaba por acontecer que quando não estão em casa a dormir estão na rua”, referiu.

D. Fernando Paiva denunciou situações de habitação precária, fomentada por pessoas que encontram nessas situações “um rendimento extra”, e apontou para uma ação “muito concertada com vários intervenientes”, capaz de impedir a exploração laboral.

“Penso que nem sempre se consegue fazer tudo o que seria necessário, ao nível, por exemplo, da fiscalização das condições de trabalho, que é um tema muito importante, a questão também das condições da habitação, mesmo até a legislação laboral”, afirmou D. Fernando Paiva, apontando para desajustes legislativos em situações de trabalho sazonal.

“Há aqui todo um trabalho de conjunto e das forças policiais, porque há situações de exploração laboral, também de redes, que se pode dizer que são mesmo de tráfico humano”

O bispo de Beja alertou para “uma certa guetização” de comunidades migrantes, muitas sem saber falar português.

“Vemos muita gente, muitos asiáticos que vêm e que circulam, e até às vezes há ali um certo fenómeno que causa alguma preocupação, uma certa guetização. Porque são pessoas que vêm, muitas delas não falam a nossa língua, e criam-se ali circuitos, até com lojas próprias, e ficam numa situação em que há menos, ou, em alguns casos, quase não há integração”, afirmou.

Na entrevista semanal à Agência ECCLESIA e à Renascença, D. Fernando Paiva valorizou o papel da Cáritas e das IPSS, “não apenas nesta questão dos imigrantes, como também noutras”, afirmando que desempenham “um papel muito importante”.

Sobre a presença da Igreja Católica no território da Diocese de Beja, D. Fernando Paiva falou numa “realidade muito diversificada” e em “várias situações que precisam de uma atenção especial”.

“A Igreja serve para evangelizar, para celebrar a fé, para auxiliar os mais necessitados, são as três grandes funções da Igreja, onde quer que esteja, mas depois há questões estruturais que precisam também de ser cuidadas, nomeadamente questões mais administrativas, ao nível da gestão dos bens, ao nível também da organização da parte dos arquivos”, apontou.

O bispo de Beja referiu-se também à comunicação como um tema que “interessa desenvolver e melhorar”, estando a dar passos que cuidem a comunicação, “quer ao nível interno, quer também ao nível externo”.

D. Fernando Paiva valorizou também, o cante Alentejano, a assinalar o décimo aniversário da elevação a património imaterial da humanidade, como um meio “que deve ser bemn aproveitado”.

“É muito bonito toda aquela profundidade daquele cante alentejano que enche a alma”, afirmou

D. Fernando Paiva vai passar a quadra natalícia como Bispo de Beja pela primeira vez, depois de ter iniciado o trabalho pastoral no território a no dia 7 de julho deste ano, aproveitando as celebrações e os encontros para “ir conhecendo as várias comunidades”.

PR

Partilhar:
Scroll to Top
Agência ECCLESIA

GRÁTIS
BAIXAR