Beja: Projeto Alqueva ainda por cumprir

D. António Vitalino critica fraca aplicabilidade do empreendimento, que recentemente viu a sua conclusão final ser adiada até 2015

Beja, 27 mar 2012 (Ecclesia) – O bispo de Beja está preocupado com a falta de aproveitamento do projeto Alqueva, que entrou em funcionamento há mais de uma década mas pouco efeito tem tido em termos de dinamização social e agrícola da região.

Num texto publicado na edição desta terça-feira do Semanário ECCLESIA, D. António Vitalino realça que “os grandes projetos agrícolas e de turismo rural” nascidos com a barragem do Alqueva “não têm contribuído para a fixação da população, pois são de baixa empregabilidade, quando muito de trabalho sazonal”.

Por outro lado, aquela que foi uma das grandes bandeiras do empreendimento, desenvolver a cultura de regadio no Alentejo, permanece por hastear, já que “as águas ainda não chegam a todas as zonas agrícolas e onde chegam pouco mais servem do que para aumentar o olival e a vinha com irrigação gota a gota”, aponta o prelado.

O bispo alentejano recorda ainda que, em virtude da construção do empreendimento, “muitas zonas de sequeiro foram abandonadas ou transformadas em montado, coutadas de caça ou também de criação de gado”.

Uma decisão que “quando o clima não é favorável, como este ano com a falta de chuva, se reveste de grande risco económico”.

Para D. António Vitalino, a fraca aplicabilidade do projeto Alqueva, que recentemente viu a sua conclusão final ser adiada até 2015, tem contribuído para o êxodo populacional que atingiu a diocese, sobretudo nas regiões do interior.

Nos últimos 10 anos, “Sines foi o único concelho que aumentou significativamente” o seu número de habitantes, mais por causa dos “investimentos industriais”, que atraíram “mão-de-obra proveniente de outras partes” do país.

É também “a única terra onde praticamente não há desemprego”, sustenta o prelado, sublinhando que a Igreja está a “trabalhar em rede e parceria com todas as entidades e instituições de modo a minorar os efeitos” da crise.

Neste contexto, a presidente da Cáritas Diocesana de Beja, propõe a “constituição de grupos de autoajuda”, nos bairros, paróquias ou coletividades, para que as pessoas “partilhem preocupações” e “saibam que não estão sozinhas”.

Maria Teresa Chaves chama também a atenção para outro dos grandes dramas da diocese, a quebra da taxa de natalidade, que deve ser contrariada através do desenvolvimento de “políticas de apoio” à família e à “maternidade”.

Nesta luta a favor do desenvolvimento socioeconómico da região, a Igreja local quer continuar a apostar na riqueza histórica, cultural e ambiental da diocese como “alavanca” para o futuro.

Eventos como o festival de música sacra “Terras Sem Sombra”, que está a ser promovido pelo Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, pretendem contribuir para preservar e rentabilizar a riqueza arquitetónica e natural do Baixo Alentejo.

Segundo o diretor daquele organismo, José António Falcão, “trata-se de conseguir que parte substancial da memória coletiva” do povo alentejano, deixe de constituir um ónus e passe a atuar como uma mais-valia”.

JCP

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