Beja prepara sínodo diocesano

D. António Vitalino em entrevista Em entrevista à Agência ECCLESIA, D. António Vitalino fala dos desafios da Igreja na sua Diocese. Nas visitas pastorais, o Bispo de Beja nota “falta de criatividade e resignação perante a realidade do envelhecimento no Alentejo”. Agência ECCLESIA (AE) – Há um ano atrás, no conselho presbiteral, colocou-se a hipótese de um Sínodo Diocesano. Esta ideia tem sofrido avanços? D. António Vitalino (AV) – A ideia mantêm-se mas temos de dinamizar mais as bases para que o Sínodo Diocesano seja verdadeiramente participado e possamos envolver as famílias, juventude e instituições. Estamos num ambiente de pré-sínodo. AE – Já existe tema? Para quando o começo? AV – Na minha mente está o ano de 2010. Em relação ao tema ainda estamos em reuniões – Conselho Presbiteral e Conselho Pastoral – para extrair daí as prioridades da diocese. AE – O ano pastoral ainda não terminou mas já existem apostas para o próximo? AV – Iremos manter – de maneira mais estruturada – o tema da família e envolvê-la na pedagogia e na educação da fé. AE – Que avaliação faz das suas visitas pastorais aos arciprestados da diocese de Beja? AV – Esta diocese tem seis arciprestados e até ao momento já percorri cinco. No próximo ano penso ir ao último que é o concelho de Beja, o maior e talvez o mais complicado. Estas visitas são um momento muito importante visto que há um contacto com a realidade do povo. Nelas, ando a pé pelas ruas, visito as várias instituições (sociais, culturais e civis) e tenho encontros com as mais diversas entidades. Aos párocos tento dar algumas orientações porque, algumas vezes, noto falta de criatividade e resignação perante a realidade do envelhecimento no Alentejo. AE – Como revitalizar o Baixo Alentejo? AV – Primeiro temos que apostar no povoamento. A população jovem é cada vez menor e há cada vez menos crianças. Nas paróquias temos que nos dirigir mais às famílias e tentar, com eles, ser fermento de vida e esperança nesta sociedade. Para além deste ponto, compete-nos lutar contra a resignação e contra a ideia que o Alentejo não tem possibilidades de vida. Noto que as pessoas procuram apenas emprego mas a realidade da vida não se resume apenas ao trabalho. A Igreja tem aqui um papel importante a desempenhar, sobretudo na animação da esperança das pessoas. AE – Nas visitas pastorais realizadas notou que existiam muitas «ovelhas» fora do rebanho? AV – No Alentejo há muitos rebanhos. Encontrei muitos pelos caminhos…. (risos) O povo como tal gosta de acolher. Pode não ser praticante mas sente-se honrado quando o bispo aparece e os cumprimenta. Oiço com frequência esta exclamação: «foi a primeira vez que estive de perto com um bispo e falei com ele». As pessoas têm receio de ir ao encontro da Igreja mas se a Igreja for missionária há, aqui, um grande futuro. AE – No Verão, as festas predominam nesta região. Há um plano específico para educar esta religiosidade popular? AV – O povo alentejano gosta muito de procissões e dos seus santos padroeiros. Só que estas envolvem, algumas vezes, «coisas» de superstição e paganismo. De Março a fins de Outubro há muitas festas nas várias localidades do baixo Alentejo. AE – Quando o Presidente da República fala no plano de inclusão, o baixo Alentejo revê-se nesta medida? AV – Acho que é todo o interior de Portugal. O Alentejo – devido à estrutura demográfica e geográfica – ainda está muito dependente da agricultura sazonal. Muitas vezes sente-se excluído e alguns resignam e vivem apenas com os rendimentos mínimos. AE – Mas há métodos inovadores como a revitalização de estruturas com passado. AV – Há casos de sucesso mas é preciso apostar mais no marketing. O Alentejo tem uma qualidade de vida que não existe na cidade. Aqui encontramos a paz, tranquilidade, sossego e o sabor da natureza. O Alentejo tem muitas potencialidades para o homem contemporâneo. AE – O Alqueva é uma delas? AV – O Alqueva tem imensas potencialidades: agricultura, turismo e produção de energia. AE – É a passagem de um Alentejo de sequeiro para um Alentejo de regadio? AV – Temos a necessidade de um Alentejo de regadio embora teremos sempre partes de sequeiro. A parte do sequeiro terá de ser reestruturada porque a produção de trigo não compensa. Fica mais caro produzir do que não produzir, devido ao preço e à concorrência.

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