Beja: «Os bens da terra», bispo reflete sobre a função social das propriedades

D. António Vitalino destaca importância da vida consagrada na Igreja e sociedade

Beja, 12 mai 2015 (Ecclesia) – O bispo de Beja, na sua nota semanal, reflete e desenvolve um dos princípios da Doutrina Social da Igreja, a destinação universal dos bens da terra, a relação com a propriedade privada, a liberdade e o trabalho.

“A propriedade não é um princípio absoluto, mas está em função do seu uso em ordem à alimentação e ao exercício da liberdade e da expressão da dignidade da pessoa, tendo em conta o bem comum e a solidariedade com os mais frágeis”, escreve D. António Vitalino.

 Na reflexão enviada à Agência ECCLESIA, o prelado explica que o cuidado e transformação da terra pelo trabalho “cria uma relação da pessoa” com esses bens conferindo-lhe propriedade no “sentido do uso e administração” mais do que “posse individual e absoluta”.

O bispo de Beja revelou que o interesse sobre um dos princípios da Doutrina Social da Igreja, surgiu numa comunidade de base no nordeste do Brasil quando lhe pediram que a hierarquia da Igreja “assumisse o lado dos sem terra e enfrentasse os grandes latifundiários”.

“O papel da autoridade do Estado é no sentido da regulação equitativa e justa dos bens da criação em ordem ao bem comum de todos, evitando que alguns se apropriem deles de modo individualista, impedindo que outros retirem também deles o seu sustento e bem-estar através do trabalho”, desenvolveu.

Neste contexto, considera que encontrar o equilíbrio entre a “posse egoísta e um socialismo coletivista” nem sempre é fácil e aqui se manifesta a “inteligência humana e o sentido do bem comum”.

Segundo o bispo diocesano, a propriedade “não pode ser arbitrária” porque tem a “função social” de garantir trabalho e alimento aos seus proprietários mas contribuir para “o bem da sociedade, direta ou indiretamente”.

Até 2 de fevereiro de 2016, a Igreja Católica está a viver um ano especial com o lema “Vida Consagrada na Igreja Hoje: Evangelho, Profecia e Esperança”, iniciativa que pretende ajudar os institutos religiosos e seculares a concretizarem três grandes objetivos: “Fazer memória agradecida do passado”, “abraçar o futuro com esperança” e “viver o presente com paixão”.

Este ano foi convocado pelo Papa Francisco no contexto dos 50 anos do Concílio Vaticano II e, em particular, dos 50 anos da publicação decreto conciliar sobre a renovação da vida consagrada.

Na nota semanal, o bispo de Beja indica esta vocação e testemunho como “essencial” na vida da Igreja uma vez que aponta para a “caducidade dos bens materiais e para o único absoluto”, que é Deus.

Para o prelado, o lema do pai do monaquismo ocidental, São Bento, – ora et labora, reza e trabalha – permanece “um modelo e um desafio” para toda a vida consagrada.

D. António Vitalino recorda que os monges beneditinos evangelizaram e “construíram as raízes” de uma Europa unida pela “fé e fraternidade”, assentes na oração e no trabalho comunitário.

Segundo alerta o bispo diocesano, o modo “radical de viver a fé” e seguir Jesus dos consagrados é um testemunho importante num “mundo dominado pelo poder financeiro da economia liberal” que secundariza a dignidade da pessoa humana e a sua dimensão espiritual.

Neste contexto recordou a frase ‘esta economia mata’, do Papa Francisco, e considera que o uso “egoísta da propriedade e dos bens da criação” não é evangélico nem cristão.

“A comunidade europeia não terá futuro, se não se abrir a estes valores do espírito, orientando os seus recursos e a sua economia, tendo em conta os valores que os consagrados vivem de modo livre e radical”, analisa D. António Vitalino.

CB

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