Caros Padres e Diáconos:
Esta é a última celebração da Missa Crismal presidida por mim nesta catedral. Começo por saudar o novo bispo eleito de Beja que hoje esteve presente no meio de nós pela primeira vez, para contatar com a igreja do Baixo Alentejo a que, em breve, presidirá. Desejando-lhe a abundância dos dons do Espírito Santo para que o seu trabalho pastoral produza muitos frutos, quero assegurar-lhe a minha oração e a oração de toda a Diocese.
Caros presbíteros e diáconos, escolhidos pelo Senhor para comigo apascentardes o Seu povo, quero agradecer-vos, pela vossa presença tão numerosa nesta celebração.
Ouvimos, há momentos na leitura do livro de Isaías, “sereis chamados Sacerdotes do Senhor e tereis o nome de Ministros do nosso Deus”. E o Senhor garante que firmará uma aliança eterna com o seu povo. A todos os sacerdotes ungidos pelo Senhor para consolarem o seu povo e o fazerem voltar do cativeiro para a sua terra, o Senhor manda coroar os aflitos e ungi-los com o óleo da alegria. Esta grande missão que o Senhor entregou outrora aos sacerdotes da Antiga Aliança, caríssimos presbíteros, hoje, está confiada aos vossos cuidados. É a mesma missão de Cristo, o Ungido do Senhor. Não estranheis por isso que o mundo não a compreenda, a ridicularize e a persiga. É uma missão que Deus vos entrega, uma missão divina, só compreensível a quem é habitado e movido pelo Espírito do Senhor.
Durante os últimos dez anos em que estive convosco como bispo, sempre me nomeastes na Oração Eucarística e continuareis a fazê-lo até à tomada de posse do Senhor D. Fernando de Paiva. A Igreja é uma comunhão que tem o seu centro na comunhão do bispo com os presbíteros e com os diáconos. O Presbitério, constituído pelos presbíteros, tem no bispo diocesano o seu presidente. Nada se deve fazer nas paróquias, sem a sua aprovação ou, pelo menos, sem o seu conhecimento. E isto pelo facto de sermos membros da Igreja de Cristo, de participarmos do mesmo culto novo inaugurado por Ele na Sua Morte e Ressurreição, de sermos participantes da mesma vida nova do povo que Ele chamou da escravidão à liberdade de filhos de Deus, para vivermos no mundo como cidadãos do Céu, a caminho da Casa do Pai, como reino de Sacerdotes e Nação Santa.
Participantes da missão de Cristo, o nosso trabalho primeiro é a pregação, pois ela suscita e alimenta a fé cristã. Na minha larga experiência de pároco, Deus é testemunha de que sempre privilegiei o anúncio do Kerigma e pude experimentar o poder que ele tem para ajudar as pessoas que o escutam a passarem da sua fé, tantas vezes estéril, para a fecundidade da fé da Igreja. A fé cristã só cresce plenamente e dá fruto quando é vivida em comunidade. Quando visitei as vossas paróquias, caros padres e diáconos, dei-me conta muitas vezes de que, com o vosso trabalho, apenas tentais conservar os restos da cristandade, e que, nas paróquias, não aparece a Igreja com a sua novidade, com a sua Boa Nova, com o seu Evangelho. E aqui, é inevitável que nos interroguemos: Como é a nossa pregação? Como anunciamos o Evangelho? Que conteúdos têm as palavras que saem da nossa boca? Como são escutadas pelos ouvintes?
Nem todos os que têm a missão de pregar têm o dom da Palavra. Mas, na Igreja, existe uma variedade de carismas que se completam. De outro modo, como poderemos encontrar trigo em terras onde, tantas vezes, apenas foi semeado joio?
A primeira resposta daquele que acredita no Senhor, como sabemos, é a liturgia. O facto de sermos poucos para tantas paróquias e o cansaço de tantas missas celebradas, pode levar-nos a desvalorizar a liturgia que celebramos. Não esqueçamos, queridos padres, que a assembleia litúrgica é a imagem mais clara da Igreja que somos. A reforma litúrgica, no entanto, ainda precisa de crescer, sobretudo na transformação das nossas assembleias em assembleias verdadeiramente celebrantes, nas quais as pessoas participam, não apenas para obedecerem a uma lei, mas por amor a Cristo e à Igreja, e pela necessidade de dar graças a Deus e de beberem a água da vida nas fontes da salvação.
Escutemos estas palavras do Concílio Vaticano II : “A Igreja procura, solícita e cuidadosa, que os cristãos não assistam ao mistério eucarístico como estranhos ou espetadores mudos, mas participem na ação sagrada, conscientes, piedosa e ativamente por meio de uma boa compreensão dos ritos e orações; sejam instruídos na palavra de Deus; alimentem-se na mesa do Corpo do Senhor; deem graças a Deus; aprendam a oferecer-se a si mesmos, a oferecer juntamente com o sacerdote, que não só pelas mãos dele, a hóstia imaculada, que dia após dia, por Cristo Mediador, progridam na unidade com Deus e entre si, para que finalmente Deus seja tudo em todos” (SC 48).
É verdade que isto já vai acontecendo em algumas paróquias, mas não podemos esquecer como são baixos os índices da prática dominical na nossa Diocese. A renovação litúrgica está, em grande parte, nas mãos dos presbíteros e dos diáconos que presidem às celebrações. O povo sabe distinguir aqueles que vivem e presidem com fé, daqueles que o fazem desalmadamente, não tendo presente que é para o Senhor que fazemos as nossas liturgias, e é a Ele que dirigimos toda a honra e toda a glória.
A missão pastoral destina-se a ajudarmos os fiéis que nos foram confiados a viverem a vida nova das bem-aventuranças. O exemplo é fundamental. Nos nossos tempos, como escreveu o Papa São Paulo VI, “as pessoas estão mais motivadas a seguir testemunhas do que a escutar mestres e se seguem os mestres é porque também são testemunhas”. Há uma grande diferença, caros padres e diáconos, entre ser padre e fazer de padre. Somos padres, escolhidos e chamados pelo Senhor para darmos ao mundo a vida divina. Por isso, não nos adaptemos ao mundo, mas sirvamos o Senhor servindo os nossos irmãos. Quem quer ganhar a sua vida perdê-la-á. E quem perder a sua vida por amor a Cristo e aos irmãos, encontrá-la-á.
A Igreja manda-nos renovar as promessas sacerdotais nesta celebração da Eucaristia. Fazei este gesto pondo inteiramente o vosso coração nas palavras com que ides responder às perguntas que vos farei. O Senhor é fiel, e conta com a vossa fidelidade.
Sé de Beja, 27.03.24
D. João Marcos, administrador apostólico