Prémio «Árvore da Vida-Padre Manuel Antunes» entregue no final da Jornada da Pastoral da Cultura
A diocese de Beja recebeu em Fátima a sexta edição do Prémio de Cultura “Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes”, instituído pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura em nome da Igreja Católica.
O júri considerou que “a forma criativa e empenhada” com que Beja “tem sabido colocar a Cultura como campo prioritário da missão da Igreja” é um “testemunho” para as dioceses portuguesas.
O reconhecimento, que realça o trabalho do Departamento do Património Histórico e Artístico (DPHA), valoriza a “conservação cuidada” dos bens culturais e o seu envolvimento num “diálogo contemporâneo e inventivo”.
Após a leitura da acta do júri, D. Mauel Clemente, Bispo do Porto e presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais destacou a Diocese de Beja no seu “exemplaríssimo percurso de diálogo cultural”.
Em particular, recordou quem “ouviu, recolheu e trabalho musicalmente as tradições orais”, para lá da salvaguarda do património artístico e arquitectónico.
Um facto relevado porque nunca faltou o “essencial”: “Inteligência, sensibilidade e vontade” numa Diocese em que, à partida, faltariam recursos materiais, destacou D. Manuel Clemente.
No momento culminante da Jornada da Pastoral da Cultura, que decorreu Sexta-feira em Fátima, D. António Vitalino, Bispo de Beja, manifestou a “grande alegria” pelos frutos do trabalho que tem sido realizado nos últimos anos, em especial no que diz respeito ao “canto popular religioso”.
José António Falcão, director do Departamento de Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, sublinhou que a nossa luta pelo Alentejo é uma luta “pelo desenvolvimento”.
A preservação da identidade, acrescentou, é um “antídoto contra a morte”.
Este responsável manifestou-se contra o “processo de destruição” do conhecimento tradicional, lamentando a crescente “insensibilidade face à vida comunitária”.
É a primeira vez que o Prémio de Cultura Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes vai ser entregue a um Organismo, depois de nos anos anteriores ter distinguido o poeta Fernando Echevarria, o cientista Luís Archer s.j., o cineasta Manoel de Oliveira, a professora de Estudos Clássicos Maria Helena da Rocha Pereira e o político Adriano Moreira.
DPHA
O património cultural debate-se hoje, num mundo globalizado e em rápida mutação, com grandes problemas. No que toca a Portugal, esta situação afecta, com particular intensidade, o património religioso, que corresponde a uma parcela esmagadora do nosso universo patrimonial – quase três quartos. A Igreja vê-se hoje a braços com enormes dificuldades para fazer frente a uma situação que, do ponto de vista financeiro e técnico, ultrapassa as suas possibilidades.
O Estado, por seu turno, dispõe cada vez de menos recursos para conservar e manter abertos os monumentos, alijando responsabilidades nos municípios, também eles sobrecarregados de encargos. Face ao descalabro que se adivinha para muitos monumentos e obras de arte sacra, a única esperança consiste na mobilização da sociedade civil. Hoje, mais do que nunca, o futuro do património depende da mobilização das comunidades locais.
Foram estas as preocupações que estiveram na origem do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja. Fundado em 1984 pelo então bispo de Beja, D. Manuel Franco Falcão, este serviço, constituído essencialmente por voluntários, inclui um “núcleo duro”, de marcado carácter técnico-científico, com 12 membros, e conta com cerca de duas centenas de colaboradores dispersos pelo vasto território do Baixo Alentejo – Beja é a segunda maior diocese do país em área, mas também a mais despovoada.
A luta pela salvaguarda do património faz-se em condições desiguais, uma vez que a desertificação crescente do interior abre a porta a situações de abandono, furto e vandalismo, especialmente em zonas rurais onde já há poucos habitantes. Mesmo assim, tem sido possível recuperar e dar nova vida a muitos monumentos e obras de arte em risco.