Beja defende património esquecido

Igreja Matriz de Alvito,um monumento nacional em risco de ruína, recebe Festival Terras sem Sombra Apostando forte numa descentralização cultural que não descura a qualidade, o Festival Terras sem Sombra traz um ciclo de grandes intérpretes ao interior do Baixo Alentejo. Miguel Serdoura, figura de referência no panorama internacional do alaúde, dá a conhecer repertório de Canções Sacras e Seculares dos Séculos XVII e XVIII, com Partitas, Sonatas e Corais de Esaias Reusner e Adamo Falckenhagen. O concerto terá lugar, em 3 de Março, pelas 21H30, num edifício de grande beleza. Classificada como Monumento Nacional desde 1939 e propriedade do Estado, a igreja matriz de Alvito é um dos principais exemplos da arquitectura manuelina do Sul de Portugal, destacando-se não só pela sofisticação da sua silhueta povoada de ameias, reminiscência de um tempo em que as igrejas também tinham funções defensivas, mas por todo um vasto espólio artístico, incluindo pinturas murais, sobre madeira e sobre tela, azulejaria, imagens, peças de ourivesaria e paramentos. É, sem favor, um dos tesouros do património português. Mas isto não evita que esteja em perigo de sofrer graves deteriorações. Apoiado sobre colunas de pedra que apresentam fissuras – um fenómeno conhecido pelo nome de esquirolamento –, o coro alto do edifício afunda-se lentamente. Um telhado novo, colocado há poucos anos pelos serviços oficiais, veio agravar ainda mais a situação, trazendo mais peso a uma estrutura já de si fragilizada. Na capela-mor, centenas de azulejos estão a desprender-se das paredes e correm o risco de colapso, como um castelo de cartas. A passagem do trânsito automóvel nas imediações não ajuda. O Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja e a Câmara Municipal temem o pior, a ruína de algumas das suas estruturas da igreja, com o consequente desaparecimento de obras de arte importantes. Há também riscos no que toca à utilização regular do espaço litúrgico. Verbas para a recuperação do monumento por parte do seu proprietário, o Estado, não existem. A resolução dos problemas tem sido sistematicamente protelada. Mas na terra não se fica de braços cruzados. Através de uma parceria que envolve a Diocese, a Paróquia e o Município, existe o firme propósito de não deixar esquecer o dossier da igreja matriz de Alvito. O primeiro passo foi dado em 2006, com o restauro de uma importante pintura mural do Renascimento em risco de perda, iniciativa promovida pela Associação de Municípios do Alentejo Central e que foi inteiramente suportada por mecenato privado. Agora, enquanto se prepara uma exposição que visa divulgar o surpreendente espólio de arte sacra do concelho, o protagonismo vai caber à música, através de um concerto integrado no 3.º Festival Terras sem Sombra de Música Sacra. Num momento em que o país está a esquecer-se do interior, é fundamental que este faça ouvir a sua voz com actividades de qualidade no campo da cultura, como acentuam os organizadores do Festival, um evento nascido da colaboração do Departamento do Património da Diocese de Beja com a Arte das Musas e que, ao atingir a terceira edição, conta com o apoio do Ministério da Cultura, da Região de Turismo da Planície Dourada e das autarquias da região. Um dos seus principais objectivos é precisamente chamar a atenção para monumentos religiosos que começam a estar ligados por itinerários de visita.

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