Beja: Colégio Nossa Senhora da Graça acolheu 100 ucranianos em 2022 – uns ficaram, a maioria quis regressar à Ucrânia

Trabalho em rede permitiu ajudar quem ficou em Portugal, «arranjando casa e trabalho» e quem quis regressar, com desejo de reencontrar a família

Foto: Agência ECCLESIA/LS, março 2022

Vila Nova de Mil Fontes, 27 fev 2023 (Ecclesia) – O Colégio Nossa Senhora da Graça, em Vila Nova de Mil Fontes, que em março de 2022 acolheu cerca de 100 pessoas vindas da Ucrânia, ajudou as pessoas a “refazerem” a sua vida, em Portugal ou a regressar.

“O nosso trabalho com a autarquia de Odemira, e com as diversas entidades, passava por encontrar soluções que permitisse quebrar a dependência com alguma instituição. Nós criávamos as condições para que as pessoas pudessem refazer as suas vidas quer cá, quer no regresso à Ucrânia. E conseguimos encontrar casa para todos, trabalho para os que quiseram, no fundo que não ficassem dependentes de ninguém. Isso era um objetivo e foi concretizado”, conta à Agência ECCLESIA o padre Manuel Pato, pároco de Odemira e diretor do Colégio Nossa Senhora da Graça, na diocese de Beja.

Cerca de 100 pessoas foram acolhidas naquela instituição mas o responsável dá conta da ajuda externa a população que chegava.

“Grande parte voltou para a Ucrânia. Foi opção sua por causa das suas famílias que permaneceram no país. Alguns estão em situações muito difíceis mas não têm coragem deixar a sua família lá, o seu apego ao que têm. Mas a vida continua muito difícil na Ucrânia: não têm eletricidade, não têm aquecimento, está tudo destruído”, lamenta.

Em março de 2022, poucos dias depois da invasão da Rússia à Ucrânia na madrugada de 24 de fevereiro, começaram a chegar a Odemira cidadãos ucranianos, ajudados pela comunidade, “então de cerca de 500 ucranianos na região”.

“Famílias inteiras: mães, filhos, irmãos, avós, que deixaram os maridos na Ucrânia. Algumas crianças ainda se mantêm no colégio a estudar”, explica o diretor.

O Colégio acolhe 32 nacionalidades, uma realidade que hoje conhece origens vindas não da Ucrânia mas do Bangladesh do Nepal: “Todos os dias recebemos alunos”.

“A possibilidade de os filhos continuarem a estudar mas também o facto de sentirem que os seus filhos não se sentem descriminados, mas estão integrados e seguros, isso é muito importante. Porque quem chega não é um, são 140 estrangeiros entre 600 alunos. Quem chega de novo encontra logo alguém da sua nacionalidade e há uma relação que se cria, que o faz sentir-se integrado e seguro”, reconhece.

O Colégio organizou aulas de português para adultos, e conta com a disponibilidade de um cidadão ucraniano, há muitos anos a residir em Vila Nova de Mil Fontes, que ajuda nas traduções e na regularização da documentação: “Muitos nem inglês falam”, conta o padre Manuel Pato.

Um ano depois do início da guerra, o padre Manuel Pato conta ainda que ouve os sonhos dos que optaram por permanecer em Portugal.

Foto: Agência ECCLESIA/LS, março 2022

“Uma parte sonha em regressar mas quando houver paz para começarem a construir. Assim que houver paz, mesmo com tudo destruído, querem voltar para ajudar, porque aquela é a sua terra e dizem-no com muita emoção. Uma parte reduzida não pensa voltar. Estão aqui a refazer a sua vida e dizem, «aquilo é passado, aquilo é dor»”, conta.

A comunidade, habituada a receber imigrantes, manifestou o seu forte sentido de solidariedade, reconhece o responsável.

“O fator de solidariedade em tempos de crise tem sido uma marca portuguesa. Marcou e continua a marcar no acolhimento mas também na relação com as comunidades estrangeiras que aqui se encontram. O aceitar o outro que chega em situações muito difíceis, valorizou o sentido da solidariedade e amizade. E muitos locais mantem contacto e laços com quem acolheram e que regressaram à Ucrânia”, explica.

LS

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Agência ECCLESIA

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