D. António Vitalino reflete sobre convivência «em paz» na «Babilónia de línguas e de culturas»
Beja, 06 out 2015 (Ecclesia) – O bispo de Beja apontou “alguns caminhos simples e viáveis” no contexto do acolhimento aos refugiados que “sonham” encontrar a paz e o bem-estar que “lhes tem sido negado”.
“Um acolhimento fraterno e inteligente, consciente das possibilidades reais, mas com um coração magnânimo, é a primeira atitude que se espera, para não aumentar o sofrimento de quem bate à nossa porta”, explica D. António Vitalino.
Na sua nota semanal, enviada à Agência ECCLESIA, o prelado adianta que o “esforço” tem de ser recíproco e considera que tem “mais obrigação” de ter iniciativa é quem não teve de “abandonar a sua terra e família”.
“Hoje em dia, com tantos recursos e meios, todos os países da União Europeia poderão facilitar este acolhimento e ajuda”, frisa o bispo de Beja, recordando que na sua infância, “no tempo da carestia dos últimos anos da II Guerra Mundial e seguintes”, repartiam o pouco que tinham com quem nada tinha.
Para D. António Vitalino, apesar da diversidade de línguas, todos entendem “a do coração, do acolhimento franco e fraterno” mas alerta para a necessidade de existir quem coordene este auxílio para “não cair na exploração” de quem se aproveita e ajuda porque “arranjou um emprego pago com recursos estatais”.
Segundo o membro da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, que também recorda a sua experiência de migrante, nos diversos contextos e ambientes da vida no encontro entre pessoas “há ou deve haver sempre um dar e receber”.
“Enriquece as duas partes. Mesmo quando uma das partes pertence a um grupo social ou culturalmente desfavorecido, quando no encontro se vê a dignidade da pessoa humana, processa-se um enriquecimento em ambas”, desenvolve.
O prelado alerta que não se podem “difundir ideias que se trata de uma invasão islâmica” quando as pessoas que tentam chegar à Europa são “fugidos à guerra e à fome”, embora haja sempre quem “se aproveite das necessidades do próximo”.
Neste sentido, D. António Vitalino aconselha também a ler a Declaração ‘Dignitatis Humanae’, sobre a liberdade religiosa do Concílio Vaticano II, promulgada a 7 de dezembro de 1965.
“Refrescaríamos as nossas ideias e deixaríamos de repetir slogans xenófobos, pouco cristãos, ou pelo menos denunciadores do medo que tolhe a vida social”, considera o bispo diocesano, para além de se celebrar os 50 anos do encerramento do Concílio [08 dezembro 1965].
Na reflexão semana, o bispo de Beja, e no contexto do Sínodo dos Bispos sobre a família, assinala que o “verdadeiro diálogo” aprende-se em família sempre interessados no bem do outro.
Por isso, espera que esta assembleia ajude a “reavivar” esses valores essenciais da convivência humana, “cuja génese começa no berço”.
“Quando este diálogo começa a faltar, aparecem a desconfiança, o receio, o medo e a solidão”, escreve D. António Vitalino.
CB/OC