D. António Vitalino diz que situação apresenta desafios para a comunidade católica
Beja, 08 jul 2014 (Ecclesia) – O bispo de Beja alertou para a “desertificação do interior” e afirmou que esta realidade apresenta desafios à diocese e às populações por fatores como as migrações, poucos nascimentos e falta de investimento.
“É necessário fazer das nossas pequenas comunidades centros de vida fraterna, de formação humana e espiritual, de partilha das alegrias e das tristezas, dos êxitos e dos fracassos, tornando os nossos ambientes mais transparentes, de pessoas próximas e atentas umas às outras”, alerta D. António Vitalino, em texto enviado à Agência ECCLESIA.
O prelado reflete sobre este “grande desafio” que é apresentado à Igreja e às dioceses do Interior, porque a falta de jovens origina ausência de vocações.
“Isto faz-se com o envolvimento de todos, com muito voluntariado dos leigos e boa coordenação diocesana”, acrescenta o bispo, que considera ser necessário “dar prioridade” ao contacto humano e descobrir “com imaginação e criatividade os meios simples para facilitar” a atenção pelo bem comum.
“Nos 17 concelhos da diocese de Beja houve um decréscimo de quase dez mil habitantes entre 2001 e 2011. Nos concelhos do litoral alentejano manteve-se a população, sobretudo devido aos imigrantes”, observa, relembrando que “nas últimas semanas”, o governo anunciou que é preciso “atacar a crise de emprego e de natalidade” e “criou uma comissão para estudar políticas favoráveis”.
D. António Vitalino alude ao aumento do número de desempregados, à diminuição de nascimentos, ao envelhecimento da população e aumento do número de emigrantes, e exemplifica com a freguesia de S. Teotónio.
“Nalgumas freguesias do litoral a população residente estrangeira é superior à autóctone. Isto reflete-se também na pastoral das paróquias, onde o número de batismos, de crianças na catequese, de matrimónios e outras áreas tem vindo a diminuir”, desenvolve.
Para o prelado, as causas “são muito complexas e múltiplas” e não se pode atribuir tudo à “crise económica” porque já existiram anos de “grande pobreza” mas “havia uma grande natalidade” e aponta, por exemplo, “o individualismo e a falta de confiança na vida e no futuro é transversal”.
Para a desertificação do interior, D. António Vitalino apresenta também a “falta de investimento empresarial, social e cultural” que se concentra nos grandes centros do litoral.
O bispo de Beja sugere ainda juntar o cantar e as canções que narram “a história das terras e das gentes” alentejanas às igrejas que “são belas e um rico património”.
“Fazer o levantamento dessa história e cultura, dando-lhes vida nos nossos ambientes, contribuirá para levantar a nossa autoestima e despertar o interesse de turistas e de imigrantes para o segredo do nosso estilo de vida, alegre e fraterno, apesar da simplicidade de recurso”, indicou D. António Vitalino.
O texto de opinião vai integrar a próxima edição do Semanário ECCLESIA, que dedica o seu bloco central às questões do interior português.
CB/OC