O concelho de Barcelos apresentou ontem (13 de Março) o programa da Festa das Cruzes, uma tradição centenária que propicia a exaltação da fé e cultura da população residente e que atrai milhares de turistas à localidade. De facto, a primeira grande romaria do Minho é o retrato das mais originais tradições religiosas, etnográficas e culturais de Barcelos. Como novidades, o responsável pela Empresa Municipal de Educação e Cultura de Barcelos, Carlos Alberto, destacou a continuação da recuperação da Batalha das Flores. «Ano após ano queremos recuperar este género de tradições populares», frisou o gestor, acrescentando que, para o desfile deste ano estão inscritos 12 carros, que retratarão alegorias da sociedade e da cultura popular de Barcelos. Destaque ainda para os Arcos de Romaria, cujo concurso juntou 56 inscrições que vão competir por um prémio de 2.500 euros. «Queremos ilustrar o melhor que se faz no concelho e do que são capazes as nossas associações», sublinhou Carlos Alberto a propósito do concurso que traz a Barcelos dezenas de coloridos arcos de romaria, uma tradição minhota que serve para assinalar a festa. O Templo do Senhor do Bom Jesus da Cruz é o centro de toda a festividade, sendo que vai estar ornamentado, como é tradição, com amplos tapetes de pétalas de flores naturais, com motivos que atraem sempre a curiosidade de milhares de pessoas. No plano cultural, Carlos Alberto destacou a realização do Encontro de Bandas de Música, com as actuações da Sociedade Filarmónica de Crestuma, da Banda Municipal Flaviense dos Pardais e com a Banda de Música de Oliveira, de Barcelos, que este ano assinala 225 anos de vida. Ainda neste domínio, foi apontada a realização de mais um encontro de Tunas Académicas, com destaque para a Tuna do Instituto Politécnico do Cávado e Ave (IPCA). Ao longo do programa estão previstas quatro sessões de fogo de artifício, sendo que a organização destaca a que se realizará no dia 5 de Maio, na Ponte Medieval. «Este será um espectáculo piro-musical com o tema “Barcelos em Festa” e realizado por uma empresa de pirotecnia que conseguiu prémios na República Checa e no Canadá », frisou o responsável pela organização. O gestor da Empresa Municipal de Educação e Cultura de Barcelos sublinhou que estas festividades «continuam a ter um grande envolvimento de toda a comunidade», sendo que o movimento associativo se destaca com a sua participação e «entusiasmo». Nestes dias, a cidade recebe milhares de visitantes nacionais e estrangeiros, que chegam para apreciar os ranchos folclóricos, os Zés-P’reiras, as bandas de música, os grupos de cantares populares. Entre os forasteiros contam- se sempre inúmeros turistas galegos que propiciam uma óptima receita a nível hoteleiro. A pensar na salvaguarda das tradições e no incremento da ligação com a vizinha Galiza, o programa contempla a realização de um Festival de Folclore Luso/Galaico, que vai para a sua quinta edição. Neste festival participam, este ano, o Grupo Folclórico de Barcelinhos, o Rancho Regional S. Salvador da Folgosa, da Maia, o Grupo Etnográfico de Samuel, de Soure, o Rancho Folclórico “As Paliteiras de Cheio”, de Lorvão, e a Ronda Típica da Meadela, de Viana do Castelo. Da Galiza, comparecem ao festival de folclore o Grupo de Danza Tradicional “Alxibeira”, de Naron, e a Agrupacion Folclórica “San Pedro”, de Arantei. Para promover a “prata da casa” em termos musicais, a organização criou o “Palco Barcelos”, no Largo da Porta Nova, por onde passarão em actuação, entre outras, diversas bandas do concelho. Programa religioso dá sentido às festas A Festa das Cruzes continua a dedicar o dia 3 de Maio (feriado municipal) como o ponto central das festividades, com um programa quase exclusivamente religioso e consagrado ao Senhor Bom Jesus da Cruz. Este facto foi sublinhado pelo prior de Barcelos, o padre Abílio Cardoso, que referiu que é a vivência religiosa daquele dia que «dá sustento» às festividades. «Se se retirasse a devoção ao Senhor da Cruz e o próprio templo, haveria um hiato na história de Barcelos», frisou o sacerdote na conferência de imprensa. Foi anunciado que a missa solene da festa, às 09h00, do dia 3 de Maio, será presidida por D. Eurico Dias Nogueira, Arcebispo emérito de Braga e que, a Procissão da Invenção da Santa Cruz, é presidida pelo Arcebispo Primaz, D. Jorge Ortiga. A procissão «traduz a tradição, a devoção e a história de 500 anos», sublinhou o padre Abílio Cardoso, acrescentando que a mesma «é uma provocação» para os tempos actuais. O quadro central da procissão é a presença das Cruzes de cada paróquia de Barcelos. Aos populares que assistem à procissão vai ser distribuído, como aconteceu no ano passado, um prospecto explicativo de cada cena representada. Com isso, o sacerdote espera que as pessoas percebam o que vêem e que se sintam interpeladas. «Queremos chamar a atenção para os “crucificados” de hoje e, por isso, estamos a tentar que as instituições que se dedicam ao auxílio social estejam representadas na procissão », anunciou o prior. Esta é uma tarefa que o padre Abílio Cardoso disse ao Diário do Minho que ainda está a trabalhar, mas que espera que seja bem acolhida pelas instituições que estão a ser convidadas para tal. «Se não conseguirmos que vão todas este ano, para o ano poderão estar representadas em maior número», rematou.