Igreja considera que o prémio responsabiliza o presidente dos EUA para o futuro
O presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, recebe hoje, em Oslo, o Prémio Nobel da Paz de 2009, “pelos extraordinários esforços para reforçar a diplomacia internacional e a cooperação entre povos”.
“O comité deu muita importância à visão e aos esforços de Obama com vista a um mundo sem armas nucleares”, declarou o presidente da comissão do Prémio Nobel, Thorbjoern Jagland.
“Só muito raramente uma pessoa conseguiu como Obama captar a atenção do mundo e dar às pessoas esperança para um futuro melhor”, afirmou ainda.
A escolha foi acolhida com “apreço” no Vaticano, à luz do “compromisso demonstrado pela promoção da paz no campo internacional e em particular, muito recentemente, em favor do desarmamento nuclear”, disse o Pe. Federico Lombardi, director da sala de imprensa da Santa Sé.
“Esperamos que este importantíssimo reconhecimento encoraje ainda mais este esforço difícil, mas fundamental para o futuro da humanidade”, acrescentou.
O presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social em Portugal, D. Carlos Azevedo, considerou que a atribuição do Nobel da Paz a Barack Obama é um gesto significativo, por se tratar do “líder político que dá mais esperança ao mundo”.
Este responsável destacou “a onda de esperança que a sua eleição representou, para todo o mundo, num momento crítico para a economia”.
Em declarações à Agência ECCLESIA, o Bispo auxiliar de Lisboa disse que este é um prémio que “responsabiliza” Obama – que tem em mãos vários dossiers delicados, como a guerra no Afeganistão – “na construção da paz”, especialmente.
“Tem de haver mais do que uma onda de aparente resolução dos conflitos, essa resolução tem de passar pelo diálogo, com passos firmes num caminho em que se veja, no fim, a paz”, indicou.
D. Carlos Azevedo defendeu que o presidente dos EUA “não pode continuar no mesmo tipo de solução” do seu predecessor, “porque o terrorismo combate-se sobretudo com investimento na educação, na partilha dos bens, e não com guerras”.
O presidente da Comissão Episcopal para a Pastoral Social referiu que a dinâmica imprimida por Barack Obama tem de trazer “consequências sociais que vão para além do mediatismo político ou do terreno económico”.
“Não se trata de voltar ao antigamente, mas ir a uma ética na economia e na política, de modo que os mais pobres não sejam afectados”, concluiu.
Menos de um ano bastou para que Obama convencesse o Comité de Oslo. A vice-presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, Joana Rigato, admitiu que a distinção parece “precoce”, embora tenha destacado a dimensão de esperança e de diálogo que o presidente dos EUA conseguiu implementar.
“Ele tem expectativas do mundo inteiro sobre ele e faria mais sentido esperar, para ver o que consegue concretizar”, disse, considerando que a distinção significa que o Comité do Nobel reconhece que a “política internacional” tem um papel fundamental na construção da paz, em especial no caso de “uma potência como os EUA”.
O Pe. Piotr Mazurkiewicz, secretário-geral da Comissão dos Episcopados católicos da União Europeia (COMECE), afirmou que este galardão é mais um desafio para o “mundo político” do que uma avaliação do trabalho de Obama.
A data de entrega do prémio, 10 de Dezembro, assinala o aniversário da morte do seu fundador, o sueco Alfred Nobel. A distinção consiste numa medalha, num diploma e num cheque de dez milhões de coroas suecas (quase um milhão de euros).
No passado dia 10 de Julho, Bento XVI recebeu pela primeira vez no Vaticano o presidente dos Estados Unidos da América. Diálogo intercultural e inter-religioso, a crise económico-financeira a nível global, a segurança alimentar, a ajuda ao desenvolvimento – em especial à África e América Latina – e o problema do narcotráfico foram alguns dos assuntos discutidos pelo Papa e Obama.
Em cima da mesa estiveram “questões do interesse de todos e que constituem o grande desafio para o futuro de todas as nações e para o verdadeiro progresso dos povos, como a defesa e a promoção da vida e o direito à objecção de consciência”. Estas são matérias em que tem havido alguma fricção entre os líderes católicos dos EUA e a administração Obama.
Outros temas abordados foram o da imigração, com particular atenção para o “reagrupamento familiar”, e o da importância da “educação para a tolerância em todos os países”.