Bangladesh: Papa denuncia «grave crise» dos refugiados vindos de Mianmar

Primeiro discurso em Daca deixa elogios ao clima de diálogo entre religiões e rejeita violência fundamentalista

Daca, 30 nov 2017 (Ecclesia) – O Papa Francisco denunciou hoje no seu primeiro discurso no Bangladesh a “grave crise” dos refugiados vindos de Mianmar, em particular do Estado de Rakhine, numa referência à minoria ‘rohingya’.

“É necessário que a comunidade internacional implemente medidas resolutivas face a esta grave crise, não só trabalhando por resolver as questões políticas que levaram à massiva deslocação de pessoas, mas também prestando imediata assistência material ao Bangladesh no seu esforço por responder eficazmente às urgentes carências humanas”, disse, no Palácio Presidencial de Daca.

Após uma audiência privada com o presidente Abdul Hamid, Francisco elogiou a ajuda humanitária que o Bangladesh tem prestado à população que chega “em massa” do Mianmar e pediu maior ação da comunidade internacional.

“Nenhum de nós pode deixar de estar consciente da gravidade da situação, do custo imenso exigido de sofrimentos humanos e das precárias condições de vida de tantos dos nossos irmãos e irmãs, a maioria dos quais são mulheres e crianças amontoados nos campos de refugiados”, denunciou.

Francisco é o terceiro Papa a passar pelo Bangladesh, onde estiveram Paulo VI (1970) e João Paulo II (1986).

“O Bangladesh é um Estado jovem e, todavia, ocupou sempre um lugar especial no coração dos Papas”, realçou.

A intervenção saudou o clima de respeito pelas diferentes tradições e comunidades religiosas, no território bengali, apresentando como “momento privilegiado” da viagem o encontro inter-religioso de sexta-feira, em Ramna.

“Juntos, rezaremos pela paz e reafirmaremos o nosso compromisso de trabalhar pela paz”, adiantou o Papa.

Francisco desejou que seja preservada a atmosfera de “respeito mútuo” e o clima crescente de “diálogo inter-religioso”, que contrariam a violência fundamentalista.

“Num mundo onde muitas vezes a religião é – escandalosamente – usada para fomentar a divisão, revela-se ainda mais necessário um tal género de testemunho do seu poder de reconciliação e união”, prosseguiu.

Em 2016, um grupo de extremistas matou 20 reféns num restaurante em Daca, num atentado em que morreram também dois polícias e seis terroristas.

O Papa sublinhou que, após este ataque, as autoridades religiosas do país souberam enviar uma “mensagem clara”: “O santíssimo nome de Deus não pode jamais ser invocado para justificar o ódio e a violência contra outros seres humanos, nossos semelhantes”.

Os católicos no Bangladesh representam 0,24% da população.

“Embora em número relativamente reduzido, os católicos do Bangladesh procuram desempenhar um papel construtivo no desenvolvimento da nação, especialmente através das suas escolas, clínicas e dispensários”, observou o Papa, elogiando em particular o trabalho desenvolvido pelas escolas católicas.

Abdul Hamid saudou Francisco e afirmou a intenção do país de defender a liberdade religiosa, sem ceder ao “medo e à intimidação”, elogiando depois a ação do Papa em defesa dos rohingya.

A viagem prossegue este sábado, com Missa e ordenações sacerdotais no Suhrawardy Udyan Park e um encontro com bispos de Bangladesh, antes da celebração ecuménica e inter-religiosa pela paz, na residência arquiepiscopal de Daca.

A cerimónia vai contar com a presença de um grupo de refugiados rohingya, acompanhados pela Cáritas local.

OC

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Agência ECCLESIA

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