Bangladesh: Cáritas prepara encontro do Papa com refugiados rohingya em Daca

«Humanidade está a ser atacada diante dos nossos olhos», realça o arcebispo Patrick D’Rozario

Lisboa, 30 nov 2017 (Ecclesia) – O Papa Francisco vai encontrar-se esta sexta-feira no Bangladesh com um grupo de refugiados rohingya, durante um evento inter-religioso pela paz em Daca.

Em declarações publicadas pela Cáritas Internationalis, o arcebispo de Daca, cardeal Patrick D’Rozario, realça a expetativa em “ouvir o Papa falar” acerca da situação dos milhares de refugiados muçulmanos provenientes de Mianmar, denominados rohingya.

Um povo radicado há séculos na antiga Birmânia, no Estado de Rakhine, e que é visto pelo governo de Mianmar como uma comunidade sem direitos, à luz de uma lei que prevê a atribuição da cidadania com base na raça.

Alvos de perseguição, cerca de 600 mil rohingya tiveram de fugir para o Bangladesh, onde a sua sobrevivência continua a ser desafiada dia após dia.

“A humanidade está a ser atacada diante dos nossos olhos. Este povo tem o direito a ter uma terra, uma casa, e a viver em paz”, frisa o cardeal Patrick D’Rozario.

A Cáritas Bangladesh tem estado no terreno “a trabalhar junto dos campos de refugiados, no sentido de facilitar o encontro” entre o Papa e os refugiados rohingya, no âmbito da viagem que Francisco está a fazer a Mianmar e ao Bangladesh até 2 de dezembro.

De acordo com aquela organização católica, “o Bangladesh está a viver uma das suas piores crises humanas, devido ao fluxo sem precedentes de refugiados provenientes de Mianmar”.

“Em pouco mais de três meses, mais de 620 mil refugiados chegaram vindos do Estado de Rakhine, em fuga de uma violência horrível, e praticamente sem qualquer tipo de bens. Barcos cruzaram o Rio Naf com famílias, crianças e idosos, pessoas que gastaram as suas economias para pagar a travessia”, relata a Cáritas.

Junto dos campos de refugiados, a organização constatou o drama que rodeia estas comunidades: “Pessoas que enfrentaram torturas terríveis, que perderam os seus entes queridos, incluindo crianças; famílias que viram as suas casas queimadas, que se esconderam no mato, que tiveram de caminhar dias e dias, sem comida, que atravessaram rios cheios de corpos”.

“As necessidades humanas – emocionais e físicas – são enormes”, frisa a Cáritas, que recolheu vários testemunhos de refugiados rohingya.

Entre eles, o de Roshida Bagon, mulher e mãe de 38 anos, que estava grávida quando teve de fugir, em conjunto com o marido e os filhos, os irmãos e a sua sogra.

“Viemos num medo absoluto. Caminhamos durante dias. Tínhamos tanta fome. Estivemos escondidos no mato, integrados num grupo enorme de pessoas. Foi um pesadelo. Não conseguíamos dormir. Qualquer som que ouvíamos, era um calafrio”, recordou.

Toda esta situação levou a que perdesse o bebé, pouco tempo depois de chegar ao campo de refugiados.

Para Roshida Bagon, Mianmar e a fuga não vão passar mais do que uma má recordação a que não quer voltar.

“Os meus filhos são felizes aqui no acampamento. Aqui todos vivemos como vizinhos e amigos, ajudando-nos mutuamente. Há um sentido de comunidade”, desabafa a refugiada rohingya.

Por agora, o futuro das famílias rohingya refugiadas no Bangladesh permanece “incerto”, realça a Cáritas.

“A situação é muito desafiante”, admite James Gomes, da Cáritas Bangladesh, que integra uma equipa que acompanha cerca de 70 mil refugiados rohingya.

A prioridade atual é garantir a dignidade humana destas pessoas, sobretudo as mais frágeis, “crianças, idosos, mulheres grávidas ou pessoas incapacitadas que estão a chegar depois de um sofrimento atroz”, com quem “é preciso lidar com muito cuidado”, sublinha aquele responsável.

JCP

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Agência ECCLESIA

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