D. Bejoy D’Cruz recordou em Portugal os frutos da viagem de Francisco ao seu país
Lisboa, 31 jan 2018 (Ecclesia) – O bispo de Sylhet, no Bangladesh, diz que a visita do Papa Francisco ao seu país e também a Mianmar, em dezembro último, trouxe nova esperança para a crise humana que marca o território e em particular o povo rohingya.
Durante uma visita a Portugal, a convite da Fundação Ajuda a Igreja que Sofre, D. Bejoy D’Cruz destacou a “mensagem vital de paz e comunhão” que o Papa argentino trouxe a esta região do sudeste asiático.
E a forma como, “em termos dos media, dos meios de comunicação”, Francisco conseguiu dar voz aos desafios atuais das populações, que vão desde a pobreza extrema que afeta grande parte das pessoas até estigmas como a discriminação étnica e religiosa.
Desde agosto de 2017, mais de 650 mil pessoas de etnia ‘rohingya’, na sua maioria muçulmanos, fugiram de Mianmar para o Bangladesh para escapar a um contexto de perseguição e de violência.
Em 1982, o regime militar de Mianmar (país de maioria budista) retirou os direitos de cidadania ao povo ‘rohingya’ e deixou-os sem qualquer referência de pátria.
Desde essa altura, os ‘rohingya’ ficaram confinados ao Estado de Rakhine, um dos mais pobres de Mianmar, e aumentaram as situações de repressão e de discriminação sobre aquela comunidade, que começou a procurar uma alternativa de futuro no vizinho Bangladesh.
O bispo de Sylhet realça os encontros “muito significativos” que o Papa Francisco teve com membros da comunidade ‘rohingya’, e também com “responsáveis políticos” e líderes das várias “religiões”, nos dois países envolvidos neste problema.
E mostra-se convicto de que esta visita possa ter deixado a semente para a resolução da situação dos refugiados ‘rohingya’.
“Eles devem ser poder regressar à sua pátria, porque pertencem lá, tem ali as suas casas e terras, as suas famílias, vivem em Mianmar há muitas gerações. O governo do Bangladesh está empenhado em ajudar neste processo, mas tudo depende da posição de Mianmar”, frisa D. Bejoy D’Cruz.
Nos últimos dias, a possibilidade do repatriamento dos ‘rohingya’ avançar esteve em cima da mesa, no entanto existem ainda algumas questões a emperrar este processo.
De acordo com o bispo de Sylhet, “o governo de Mianmar tem criado restrições, tem imposto várias condições” à repatriação dos ‘rohingyas’, ao nível de “número de pessoas a receber”, do local para “onde elas vão viver”.
“E por isso tudo está a levar tempo. Quanto? Não sei. E também oiço que alguns não querem regressar, pelas experiências amargas e dolorosas que passaram”, acrescenta.
Entretanto, os refugiados ‘rohingyas’ no Bangladesh estão “confinados” a uma área do país, em campos e abrigos “temporários”.
As dificuldades, sobretudo nesta altura rigorosa de Inverno, são “muitas”, realça o bispo de Sylhet; vão desde o frio à falta de condições sanitárias e escassez de outros serviços básicos, que afetam sobretudo “as crianças e os idosos”.
A Cáritas do Bangladesh está no terreno a procurar ajudar as pessoas, tendo neste momento ao cuidado pelo menos “33 por cento” destes refugiados.
O bispo destaca este esforço, tendo em conta que a Igreja Católica no país representa apenas 0,2 por cento da população.
Um trabalho que “o Papa Francisco também ajudou a destacar”, durante a sua visita àquele país da Ásia.
“Uma pequena comunidade católica foi focada, naquilo que está a fazer em campos como a educação, a saúde e a pastoral sociocaritativa. E a missão da Cáritas, posta em prática independentemente de etnias ou credos, para todas as pessoas”, completou.
A Igreja Católica no Bangladesh conta com cerca de 375 mil pessoas, espalhadas por 8 dioceses, que são servidas por mais de mil sacerdotes, bispos e religiosos.
No Seminário Maior do Espírito Santo estudam atualmente 120 candidatos ao sacerdócio, sendo que com a soma de todos os seminários menores existem pelo menos “400 novas vocações” em formação para a Igreja Católica no país, sublinhou D. Bejoy D’Cruz.
Recorde-se que durante a sua visita apostólica ao Bangladesh, no início de dezembro de 2017, o Papa Francisco ordenou 16 novos sacerdotes para a comunidade local.
O programa da viagem incluiu ainda um encontro inter-religioso pela paz com representantes cristãos, muçulmanos, hindus e budistas, na presença de uma delegação ‘rohingya’.
JCP