Ligada à IPSS da Maternidade Alfredo da Costa desde 2003, a presidente do Banco do Bebé diz que acompanhar «tempo primordial na vida de bebés e famílias» é «chão sagrado»

Lisboa, 24 dez 2025 (Ecclesia) – Cristina Maltês, presidente do Banco do Bebé, disse que visitar os bebés recém-nascidos é “encontrar Jesus na sua fragilidade” e que, à semelhança de Jesus, “muitas mães não têm roupa ou um quarto para lhes dar”.
“Gosto muito de fazer esta analogia porque de facto é verdade: à semelhança de Jesus, há pouca roupa para cobrir estes bebés, às vezes não há um sítio próprio para o deitar, algumas destas mães ou famílias não têm uma casa só para si, partilham uma casa ou um quarto. Há uma fragilidade económica mas também emocional”, explica à Agência ECCLESIA a responsável da Instituição Particular de Solidariedade Social, criada nos anos 90, na Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa.
Cristina Maltês entrou no Banco do Bebé em 2003, como voluntária, que visitava as enfermarias; a sua formação em fisioterapia e o facto de se ter “apaixonado” por este trabalho vinculou-a à IPSS.
“O lugar da fragilidade é um lugar de amor. Pode ser um lugar onde haja medo e receios, mas pode ser um lugar cheio de amor e muitas vezes estes bebés que visitamos, nesta enorme fragilidade, famílias estrangeiras sem nenhuma rede de apoio, e tantas famílias portuguesas com poucos recursos, são lugar de amor”, traduz.
Atualmente nove trabalhadores e 90 voluntários prosseguem o trabalho de uma instituição que oferece um “cabaz” a famílias desfavorecidas, que encontram na Maternidade o local para o nascimento de um filho, e procuram acompanhar, através do Apoio Domiciliário, as famílias que necessitam de apoio.
“Neste tempo primordial entre o nascimento do bebê e os três anos de vida, é o tempo principal em que tudo o que acontecer vai ser determinante: o colo, a segurança, o amor vai ser determinante para o adulto e as relações que vai ter. Esta fase é chão sagrado que pisamos”, conta.
A ação do Banco do Bebé estende-se hoje ao Hospital Santa Maria, ao Hospital São Francisco Xavier, ao Hospital Beatriz Ângelo e às Comissões de Proteção de Crianças e Jovens.
O apoio domiciliário quer dar continuidade aos “cuidados” que a Maternidade providencia sem correr o risco de que os “cuidados prestados se percam na passagem para casa”.
Cristina Maltês fala num trabalho de acompanhamento que visa dar dignidade e ajudar as pessoas a “reconhecerem-se dignas”, numa população que muitas vezes “não escolhe” mas nasce “num contexto”.
Nós corremos os 100 metros, a família vai correr a maratona. Nós vamos estar num espaço muito curtinho da vida daquela família e nós apenas vamos procurar dar ferramentas e capacitar pessoas que muitas vezes não conseguiram escolher nada na sua vida. As suas decisões na vida foram opções possíveis. Por isso, por vezes, só escolher entre pôr esta ou aquela roupa ao bebê, poder verbalizar e sonhar, projetar a vida, é dar dignidade às famílias e aos bebés.”
Há mais de 20 anos a acompanhar o Banco do Bebé, Cristina Maltês dá conta da “riqueza interior” que tem ganho, mercê do contacto com mães de diferentes nacionalidades que a ensinam “que há formas diversas de tratar de um bebé”, que há “uma resiliência enorme em outras formas de viver”, que “se consegue fazer muito em casas que têm pouco”.
“Descobri bairros e locais que eu desconhecia, e aos quais não quis levar o meu mundo, porque não queria fazer da minha vida um exemplo, mas quis acolher a diferença, e descobrir diferentes formas de cuidar; recebi uma enorme gratidão e valorizei ainda mais a minha vida”, traduz.
Cristina Maltês sublinha ainda que o nascimento de um bebé “traz ao mundo o melhor das pessoas”, oferece uma “esperança acrescida, e um convite de renovação”: “Um bebé é uma folha em branco em que ainda está tudo por escrever”.
A conversa com Cristina Maltês pode ser acompanhada no programa ECCLESIA, na Antena 1, pouco depois da meia-noite, e disponibilizada no podcast «Alarga a tua tenda».
LS
