Aveiro: «Sinodalidade não pode ser tema encerrado» – padre Licínio Cardoso

Diocese inicia triénio pastoral – ‘Igreja de Aveiro, peregrina na esperança’ – onde quer desenvolver «corresponsabilidade ministerial e sinodal», «ministérios laicais» e a «identidade eclesial»

Foto: Agência ECCLESIA/HM

Aveiro, 17 mai 2024 (Ecclesia) – O padre Licínio Cardoso, membro da equipa sinodal da Diocese de Aveiro afirmou à Agência ECCLESIA temer que o processo naquele território esteja a ser encarado como um “assunto encerrado”.

“Sinto que esta caminhada sinodal para muitas comunidades paroquiais é um assunto arrumado, foi uma espécie de tema e não uma dinâmica, não aquilo que o Papa Francisco nos pede, que a sinodalidade é a forma de ser da Igreja neste milénio onde estamos. Fez-se a reflexão e agora, Roma que decida. Nota-se que ainda não nos conseguimos desinstalar de uma certa forma de ser Igreja”, lamentou o também coordenador de Pastoral naquele território.

A Diocese de Aveiro está a iniciar um triénio até 2027, com o tema ‘Igreja de Aveiro, peregrina na esperança’, que se pretende venha a “marcar o ritmo” e onde se pretende que a sinodalidade seja uma marca.

O responsável explica que o primeiro ano vai ser dedicado à “corresponsabilidade ministerial e sinodal”, procurando um “novo modo de ser Igreja” onde cada pessoa se sinta “responsável e corresponsável no seio da Igreja”.

O segundo ano vai procurar “dinamizar a vida das comunidades” perante “menos clero” e apostando nos “ministérios laicais”.

“Os ministérios laicais, como o Papa Francisco tantas vezes nos diz, têm de ser uma realidade pela riqueza do próprio ministério. Vamos procurar delinear um novo estilo de ser Igreja, que passa também pela reestruturação de algumas das nossas estruturas diocesanas”, explica, adiantando estar em planeamento um “novo organograma da diocese” para uma “nova organização dos serviços, dos secretariados, dos departamentos”.

O terceiro ano será dedicado à “identidade eclesial”: “A identidade cristã de cada fiel, o rosto de Igreja, que tem de ser no mundo um rosto de esperança, um rosto capaz de promover a fraternidade, sem fronteiras, uma Igreja que é capaz de ser protagonista do cuidado com este mundo em que vivemos, desta identidade cristã que tem de se alimentar numa determinada espiritualidade”.

“Este triênio que se abre na Diocese de Aveiro é também essa tentativa de não esquecer o ritmo que a Igreja Católica está neste momento a assumir”, sublinha.

O padre Licínio Cardoso explica ainda que são pedidas quatro atitudes para a concretização do plano apresentado: “A sinodalidade como prática, a escuta, o discernimento e entender tudo isto como um processo”.

O responsável dá conta que o processo iniciado em 2021 pelo Papa Francisco pede que se ultrapassem “modelos habituais” e explica “relações baseadas no poder e autoridade”.

“O clericalismo nota-se não só nos meus colegas padres, evidentemente, se calhar em mim próprio, mas depois também noto da parte de alguns leigos este mesmo clericalismo, às vezes até mais exacerbado do que da parte dos próprios clérigos”, lamenta.

O padre Licínio Cardoso dá conta de uma realidade diocesana diversa, chama a atenção de que “ações pastorais planificadas nem sempre se adequam a todas as paróquias” e fala na necessidade de “desinstalar estruturas” que serviram a pastoral mas que hoje não respondem a “anseios e necessidades das pessoas”.

“Aparece na nossa síntese diocesana a clara referência de que a Igreja não sabe comunicar, a nossa Igreja diocesana não sabe comunicar. Não sabemos dizer quem somos, não sabemos apresentar a mensagem com aquela clareza, com aquele impacto e com aquela força que o nosso Jesus tinha no diálogo com as pessoas, na capacidade de sintonizar com as pessoas, com as suas realidades, com os seus sofrimentos, com a sua vida concreta. A nossa presença de Igreja tem de ser no concreto da vida das pessoas”, indica.

O responsável indica ainda a dificuldade na “linguagem”, lamentando o uso de “conceitos que não chegam às pessoas”.

O relatório da diocese de Aveiro valorizava ainda a “relação”, “a escuta e o acolhimento” que permita “abrir janelas de esperança às pessoas”.

“Saber comunicar é também saber acolher e também saber abrir novos caminhos e novos horizontes. E algumas pessoas queixam-se de que a única resposta que tiveram foi um ‘não’ ou ‘não é possível’. Quando acolhemos, quando recebemos pessoas, temos que ter esta capacidade de lhes propor algo mais, e isso nem sempre acontece”, explica.

A equipa sinodal, constituída por cinco pessoas, disponibilizou um questionário online, organizou assembleias arciprestais e também uma assembleia diocesana para alargar a reflexão na diocese.

O Papa Francisco lançou, em 2021, um Sínodo dos Bispos com o tema «Por uma Igreja sinodal – comunhão, participação, missão», cujo processo na Diocese de Aveiro vai estar no centro do programa Ecclesia na Antena 1 este sábado, pelas 6h.

LS

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