Publicação vai incluir testemunhos de reclusos, alguns já reinseridos na sociedade, e vai ter o nome «Prisão de Dentro para Fora»
Santarém, 23 out 2024 (Ecclesia) – A Pastoral Penitenciária da Diocese de Aveiro apresentou esta terça-feira, nas Jornadas Nacionais de Pastoral Social, em Santarém, um projeto literário que está a desenvolver relacionado com a realidade dos reclusos no interior da prisão.
O diretor do Departamento da Pastoral Penitenciária, do Secretariado Diocesano da Pastoral Socio-caritativa de Aveiro, afirmou, em declarações à Agência ECCLESIA, que o livro, que vai ter o nome “Prisão de Dentro para Fora”, bem como a pesquisa e o conteúdo com os 140 participantes estão quase concluídos.
“É uma realidade que ninguém conhece, nós conhecemos a prisão e falamos de fora para dentro, então abrimos um questionário a 72 participantes no Google Forms e houve 72 participantes que responderam a 10 questões para vermos esta visão que têm sobre a prisão vista na perspetiva de fora para dentro”, explicou o diácono José Carlos Costa.
Além disso, foi feito também um inquérito a 22 reclusos para obter a visão de “dentro para fora”, contando o livro com textos temáticos de 20 participantes, mais 15 testemunhos de reclusos, uns que ainda estão na reclusão e outros que já saíram e foram reinseridos na sociedade e na família com sucesso.
“É um livro que nós gostaríamos muito de vender, gostaríamos muito também de ter um financiamento, gostaríamos muito de o publicar a custo zero para depois todo o seu produto ser para custear despesas dos próprios reclusos”, indica o responsável.
José Carlos Costa fala no objetivo de todas as semanas garantir um depósito monetário para que reclusos que não têm possibilidades tenham dinheiro para conseguir contactar com as famílias.
O responsável fala que o departamento da Pastoral Penitenciária, do Secretariado Diocesano da Pastoral Socio-caritativa de Aveiro, acompanha cerca de 40 reclusos do Estabelecimento Prisional de Aveiro, a quem é garantido o contacto com a família.
“Depois quando saírem este vínculo será muito importante, sem ele é quase impossível a reinserção, para além de outras necessidades que apoiamos, vestuário, calçado, etc”, refere.
A publicação prisional está a ser desenvolvida com o apoio do Estabelecimento Prisional de Aveiro e Assistência Espiritual Prisional e Departamento Diocesano da Pastoral Penitenciária, do Secretariado Diocesano da Pastoral Socio-Caritativa da Diocese de Aveiro.
O projeto literário prisional tem como ponto de partida várias questões como: “Quem é a pessoa que cometeu o crime?, como avaliamos o crime?, em que contexto vivia?, principal missão da reclusão?, como é que a sociedade acolhe após a reclusão?”.
Já o ponto de chegada da publicação visa “conhecer o autor do crime”, “reabilitar a pessoa em reclusão”, “reinserir no pós-reclusão” e “prevenir a reincidência”.
José Carlos Costa aponta como desafios na Pastoral Penitenciária a importância de conhecer o autor do crime.
“Quem é este autor, quem é esta pessoa que cometeu o crime? Qual é a sua origem? O seu passado? Os seus contextos? O que é que o levou ao crime? Nada disto é estudado, ninguém sabe”, indica.
O diretor do Departamento da Pastoral Penitenciária, do Secretariado Diocesano da Pastoral Socio-caritativa de Aveiro, realça a importância de compreender a pessoa, ouvi-la, acompanhar e curar a prisão, para depois ser libertada e reinserida na sociedade.
A Casa Episcopal de Santarém recebeu esta terça-feira o encontro de secretariados diocesanos do setor social e da mobilidade humana, a cáritas de cada diocese, assim como diferentes organismos que atuam na resposta aos problemas sociais da sociedade, nomeadamente a União das Misericórdias Portuguesas e a Confederação das Instituições Particulares de Solidariedade Social.
CB/LJ