Comissão da Cultura assinala que a guerra «é real em mais de cinquenta lugares do mundo»

Aveiro, 23 jul 2025 (Ecclesia) – A Comissão Diocesana da Cultura de Aveiro publicou um manifesto por uma “cultura da autêntica paz”, “perante um mundo em guerra e de guerras”, em mais de 50 lugares, e afirma que os “adversários não são os outros humanos”.
“Os tempos desafiam a uma visão da paz que perpasse em todas as condições da realidade: da família à escola, da economia à política, da diplomacia à interculturalidade, do ecumenismo ao diálogo inter-religioso”, explica a nota enviada à Agência ECCLESIA.
O ‘manifesto por uma cultura da autêntica paz’ convida a construir “uma autêntica cultura de humanidade”, humanos frágeis que unem as suas fragilidades para “fazerem forças”.
“Ousemos sofrer a dor do outro. E nascerá daí um amanhã de vitórias comuns. Os nossos adversários não são os outros humanos, mas os desafios que decorrem da própria condição frágil que nos define como humanos. Perdemos tempo no combate contra os outros”, desenvolve o organismo diocesano.
A Comissão da Cultura da Diocese de Aveiro apela à construção de uma “cultura do acolhimento, do respeito, do reconhecimento de que ao outro sempre caberá amar e não repudiar ou rejeitar”, esse outro que “não é fonte do mal”, mas, poderá, “pelo contrário, em muitas situações, ser, mesmo, sua vítima”.
“O outro pode ser o filho ainda não nascido, o imigrante fragilmente chegado, o refugiado de todos os pontos repudiado, o desempregado desolado, o preso abandonado, o sujeito estereotipado, etc., etc. O outro, humano como eu, merece reconhecimento; não a presunção da legitimidade de poder ser repudiado.”
A Comissão Diocesana da Cultura de Aveiro une-se a todas as vozes que se deixam comover “no coração e através das suas mãos”, para a construção de uma “realidade verdadeiramente humanizada e não inumana”, e “todos os agentes” devem envolver-se – “os legisladores, decisores económicos, promotores dos mais diversos âmbitos da vida comum” -, na promoção de uma “autêntica cultura da vida e da paz”.
Segundo o organismo da Diocese de Aveiro, num mapa do mundo contemporâneo “a guerra é real em mais de cinquenta lugares do mundo”, “com custos imediatos de vidas perdidas, de insegurança, intranquilidade”: “Irmãos e irmãs como nós a quem matam a vida, a memória, o presente e o amanhã.”
Na sua nota, a Comissão Diocesana da Cultura de Aveiro cita Leão XIV que lhe chama a “barbárie da guerra”, e lembra o Papa Francisco, que afirmou “a guerra é a falência da humanidade” (outubro de 2020), palavras que “continuam a ecoar como voz de incómodo”.
No dia 10 de julho de 2020, no Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, o cardeal José Tolentino Mendonça, presidente da comissão organizadora das comemorações, referiu que “a antropóloga surpreendeu a todos, identificando como primeiro vestígio de civilização um fémur quebrado e cicatrizado”, o que quer dizer que “uma pessoa não foi deixada para trás, sozinha”, no discurso ‘o que é amar um país’.
“Os sinais de regresso ao momento anterior ao da cicatrização do fémur devem perturbar-nos e levar-nos a pretender tudo fazer para construir uma cultura da autêntica paz. A paz que não é mera ausência de guerra, mas baseada, primeiramente, na justiça”, assinala a nota da Comissão Diocesana da Cultura de Aveiro.
CB/PR