Autobiografia: Papa afasta a possibilidade de renunciar e diz que é «hipótese distante» (atualizada)

Livro «Life. A minha história na história», lançado no 11.º aniversário de início do pontificado, atravessa as várias fases da vida de Francisco

Foto EPA/Lusa

Cidade do Vaticano, 19 mar 2024 (Ecclesia) – A editora HarperCollins  lança hoje uma autobiografia do Papa “Vida. A minha história na história”, que faz uma viagem pelas recordações de Francisco desde a infância até à atualidade.

Num das passagens do livro, o Papa afasta a renúncia, referindo que esta “é uma hipótese distante”, uma vez que não existem “motivos tão graves” que o levem a pensar nessa possibilidade, nunca tida em consideração “apesar dos momentos de dificuldade”, informa o portal do Vaticano.

“[Não há] condições de renúncia”, diz Francisco, exceto se surgir “um grave impedimento físico”, que teria como resposta uma “carta de renúncia”, depositada na Secretaria de Estado, assinada pelo Papa no início do pontificado.

No livro escrito em colaboração com o vaticanista Fabio Marchese Ragona, Francisco indica que esta é uma possibilidade remota, porque goza “de “boa saúde e, se Deus quiser, ainda há muitos projetos a realizar”.

Em caso de renúncia, o pontífice diz que vai escolher ser tratado não por “Papa emérito”, mas simplesmente por “bispo emérito de Roma” e que viveria na Basílica de Santa Maria Maior “para voltar a ser confessor e levar a comunhão aos doentes”.

Com mais de 300 páginas, a obra visa ainda a posição do Papa sobre temas como a declaração “Fiducia supplicans” e as uniões civis de homossexuais.

O Papa reiterou o sim às “bênçãos para os casais irregulares”, porque todos são amados por Deus, “especialmente os pecadores”.

Francisco imagina uma “Igreja mãe, que abraça e acolhe todos, mesmo aqueles que se sentem enganados e que foram julgados” por ela no passado, referindo-se aos homossexuais ou transexuais “que procuram o Senhor e que, em vez disso, foram rejeitados ou expulsos”.

Sobre as uniões civis de casais do mesmo sexo, o Papa defende que “é justo que estas pessoas que vivem o dom do amor possam ter cobertura legal como todos os outros”.

No livro, o Papa falou ainda sobre a resistência que encontrou ao processo de renovação da Igreja.

“[Mesmo que haja] sempre alguém a tentar impedir a reforma, que gostaria de ficar preso aos tempos do Papa Rei”, disse, o facto é que “o Vaticano é a última monarquia absoluta da Europa e que, muitas vezes, aqui dentro, se fazem raciocínios e manobras de corte, mas estes esquemas devem ser definitivamente abandonados”.

Francisco aborda a renúncia de Bento XVI e a convivência entre ambos, lamentando que a figura do Papa emérito tenha sido “explorada” para “fins ideológicos e políticos por pessoas sem escrúpulos”, bem como as “polémicas” que “em dez anos não faltaram” e “magoaram a ambos”.

“Vida. A minha história na história” inclui também memórias da ditadura na Argentina, que “foi um genocídio geracional”, escreve o Papa, e fala nas acusações feitas contra si sobre ter sido conivente com o regime do general Jorge Rafael Videla, desmentidas pela evidência da sua oposição “a essas atrocidades”.

Francisco aborda a tentativa falhada de salvar a sua professora Esther, “comunista a sério”, ateia “mas respeitadora” que “embora tivesse as suas ideias, nunca atacou a fé”.

“Ensinou-me muito sobre política”, observa, antes de sublinhar que “falar dos pobres não significa automaticamente ser comunista”, uma vez que “os pobres são o estandarte do Evangelho e estão no coração de Jesus”, e que “nas comunidades cristãs as pessoas partilhavam os bens”.

“Isto não é comunismo, é o cristianismo no seu estado mais puro”, insiste, em passagens pré-publicadas pelo jornal italiano ‘Corriere della Sera’ e pelo portal de notícias do Vaticano.

O Papa sublinha a necessidade de defender a vida humana, “desde a conceção até à morte”, considerando que o aborto “é um assassínio” e falando da prática da barriga de aluguer como “desumana”.

Francisco aborda temas como a proteção da criação ou o futuro da União Europeia, dirigindo-se aos jovens, para lhes pedir que “façam barulho”, porque “o tempo está a esgotar-se, já não nos resta muito para salvar o planeta”.

A II Guerra Mundial é um dos aspetos tratados no livro, e segundo Francisco, “o uso da energia atómica para fins de guerra é um crime contra o homem, contra a sua dignidade e contra qualquer possibilidade de futuro na Casa comum”.

No livro há espaço ainda para um capítulo sobre a paixão por futebol do Papa Francisco, onde versa sobre Maradona e Messi e explica porque não assiste aos jogos da seleção argentina na televisão.

Além destas memórias, Francisco escreve sobre a relação com a família, os avós, a emigração dos pais para a Argentina e a “pequena paixão” que viveu durante antes de ser padre

O início solene do pontificado aconteceu a 19 de março de 2013, solenidade litúrgica de São José.

LJ/OC
Notícia inicialmente publicada a 14.03 e atualizada a 19.03.2024

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Agência ECCLESIA

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