Padre José Luís Borga diz que falta fraternidade, princípio «não legislável»
Lisboa, 16 jan 2015 (Ecclesia) – O padre José Luís Borga, sacerdote da diocese de Santarém, considera que a imprensa “também pode ser fanática” e que o valor da fraternidade “que não é legislável” não está a ser cultivado por religiões nem por Estados.
“A imprensa pode ser fundamentalista. O último número é uma manifestação daquilo que está por aprender: a fraternidade, considera o sacerdote da diocese de Santarém à Agência ECCLSIA, sublinhando que o último número do jornal «Charlie Hebdo» significa um “medir forças que não vai ajudar”.
Um ataque, em Paris, ao jornal «Charlie Hebdo» e a um supermercado judaico por extremistas islâmicos resultaram na morte de 20 pessoas, incluindo os três autores dos atentados.
Para o sacerdote o humor “é um ótimo exercício entre gente de boa-fé” mas, indica que mais do que coragem para ofender “há que ter coragem para suportar a ofensa dos outros”.
“Se uns não aprendem a não ofender e outros a não matar, continuamos com o mesmo problema. Alguém tem de dar o braço a torcer: que dê o mais inteligente”.
O comentador da Ecclesia afirma que na base está um problema de fraternidade.
“A liberdade e a igualdade são legisláveis mas a fraternidade ou nasce dentro de nós, na conceção de que todos somos irmãos, ou não se pode legislar”.
O padre José Luís Borga afirma que os “Estados laicos têm dificuldades em justificar a fraternidade” e dá como exemplo o impedimento de construir presépios ou a retirada de cruxifixos do espaço público.
“Quando um Estado é opositor de tudo o que pode ajudar a construir fraternidade, contribuiu para a frequência destes acontecimentos”.
“É preciso ajudar a que o mundo islâmico conheça e se reveja em princípios de liberdade, respeito e dignidade da pessoa humana. Mas são valores que precisam aprender connosco e não contra nós. Sem diálogo estas coisas tornam-se mundos em permanente conflito. É preciso criar pontes”, sublinha o sacerdote.
A manifestação que congregou nas ruas de França milhões de pessoas é “significativa”; no entanto não pode ser “episódica” mas “militantemente cultivada”.
“Se às manifestações não se juntarem formas ordinárias de dar verdade ao que foi expressado, cantado e também se percebeu no silêncio; se não houver diálogo entre as religiões, entre o poder político, com as dinâmicas sociais, de nada serve”.
O comentário do padre José Luís Borga pode ser acompanhado no programa Ecclesia na Antena 1, no próximo domingo.
LS