Mensagem de D. António Vitalino para o Dia da Igreja Diocesana de Beja. Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros (Jo 17, 21) Amados cristãos da diocese de Beja 1. No dia 30 de Setembro vamos realizar o Dia Diocesano em Beja, com o qual damos início a um novo ano de acção apostólica, no qual queremos ter uma atenção especial para com a família, o berço da vida e dos valores fundamentais do ser humano na terra. É na família que, normalmente, se aprende a amar, porque se é amado. No seio da família começámos a escutar as primeiras palavras e a repeti-las, tentando corresponder a quem nos interpela, aprendemos a discernir o bem e o mal, a verdade e a mentira, o agradável e o desagradável, a perdoar e ser perdoado, em resumo, a relacionarmo-nos harmoniosamente uns com os outros. A família é a célula da sociedade e também da Igreja, a ponto de João Paulo II ma Exortação apostólica Familiaris consortio a denominar Igreja doméstica (nº 21). Por isso a acção da Igreja, vulgarmente denominada pastoral, deve ter como uma prioridade fundamental a família, com todos os seus membros e na sua interrelação. Aquilo que Jesus afirmou sobre a verdade da sua presença, onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, aí estou Eu no meio deles (Mt 18,20), verifica-se de modo privilegiado na família. Por isso, desde as primeiras páginas da Sagrada Escritura aparece a realidade da família como obra prima de Deus, onde melhor está gravada a sua imagem, amor e bondade (cf Gn 1, 26 ss). Isto não foi anulado pelo pecado. Na obra da redenção o amor matrimonial aparece como a expressão mais exacta do amor de Cristo pela sua Igreja (cf Ef 5,21 ss). Deste modo, não é de admirar que no ano passado tenhamos apelado para o envolvimento da família na pastoral da Igreja e agora proponhamos à diocese um plano trienal, que tem como prioridade a família. 2. Se a Igreja é um sinal da unidade para que deve tender todo o género humano, como afirmou o Concílio Vaticano II (cf LG 1), unidade essa que só poderá realizar-se no acolhimento do amor que vem de Deus com a nossa participação e co-responsabilidade, não podemos ficar apenas pela celebração da fé através dos sinais sacramentais. Temos de ir ao encontro dos homens e mulheres da nossa sociedade, em todas as etapas da sua vida e despertá-los para uma vida de relação harmoniosa com toda a criação e o Criador. Esta aprendizagem começa na família. Com o anúncio da Boa Nova de Jesus Cristo, a celebração da fé na Liturgia, essencialmente comunitária e pela prática da caridade, a Igreja apoia os membros da família no cumprimento da sua vocação de célula da sociedade. Nas suas actividades pastorais a Igreja não quer dividir ou separar o que Deus uniu, mas contribuir para a plena realização da pessoa humana. Prestaremos um grande serviço à pessoa, à família e à sociedade, se contribuirmos para que cada um tenha consciência de que Deus o ama e esse amor se manifesta e nos faz alegres e felizes quando nos amamos uns aos outros. 3. Ao iniciarmos este novo ano pastoral peço a todos os que acreditam em Jesus Cristo e se dizem membros da Igreja, a começar por aqueles que Deus, através da Igreja, chamou para o serviço ordenado ou instituído, que sejam testemunhas do amor de Deus, vivendo na caridade, que é benigna, não diz mal do próximo, tudo suporta e tudo perdoa (cf 1 Co 13), de modo que no rosto do nosso semelhante resplandeça para nós o rosto misericordioso de Jesus Cristo e nós sejamos também espelho desse mesmo amor. Mais que pelas palavras, queremos ser testemunhas, pois é disso que o mundo mais precisa. Queremos confiar este plano à protecção maternal de Nossa Senhora, que na Cruz nos foi dada como Mãe e que o povo alentejano tanto venera nas suas múltiplas expressões e títulos. Esta será uma das principais intenções que levaremos connosco a Fátima, na peregrinação diocesana, que terá lugar nos dias 15 e 16 de Junho de 2007. É minha intenção trazer do santuário de Fátima para a diocese a imagem peregrina de Nossa Senhora, nesse ano em que comemoramos o 90º aniversário das aparições aos três pastorinhos e se completam 60 sobre a primeira visita da imagem de Nossa Senhora de Fátima por terras do Alentejo. Mas desta vez gostaria que esta visita fosse mais prolongada, ficando mais tempo em cada terra, com o apoio de missionários, para nos ajudarem a acolher a Mãe de Jesus nas nossas casas e nos nossos corações. Com a presença da imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima e o apoio de missionários pretendemos fazer a preparação próxima para o já anunciado Sínodo diocesano, que prevemos convocar para o triénio de 2009/2012. Mas até lá, vamos, alegres e confiantes, ajudar as nossas famílias na realização da sua nobre missão humana e divina, para transformar o nosso Alentejo na casa comum de uma grande família, onde não há acepção de pessoas e todos se amam, à semelhança de Deus, Trindade de Pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo, comunidade fundante do amor que é derramado nos nossos corações e nos impele a deixá-lo extravasar para aqueles com quem vivemos. † António Vitalino, Bispo de Beja