Octávio Carmo, Agência ECCLESIA
As sociedades ocidentais vivem num paradoxo existencial: ao longo dos últimos séculos têm visto crescer as reivindicações de fraternidade, mas foram perdendo o sentido de paternidade. Ao pai correspondeu, durante demasiado tempo (infelizmente), a ideia de uma figura autoritária, que impede a afirmação do indivíduo em liberdade dos seus filhos.
Vale a pena assumir o discurso da ternura e da proximidade – tão presente no atual pontificado – e, mais do que isso, assumir a paternidade. O momento em que o homem vê a sua vida transformar-se em algo maior do que si próprio implica mudanças, sacrifícios, abnegação e traz consigo recompensas inesperadas, de realização interior e de sentido.
Assumir a paternidade na sociedade atual, entenda-se, é mais do que ter filhos. Não é um mero ato mecânico. É entrar na maturidade humana, espiritual, intelectual, abandonar a centralidade egoística e entender o outro como uma responsabilidade pessoal e coletiva.
Do ponto de vista católico, implica também, necessariamente, reaprender a sentir-se filho de Deus, redescobrindo a sua identidade como Amor e não desfigurando o seu rosto, com as reduções injustas a um elenco de regras e proibições. O avanço dos tempos tem mostrado, de forma indiscutível, que não é possível construir uma sociedade verdadeira fraterna sem este sentido genuíno e profundo da paternidade.
Octávio Carmo