Padre e poeta português participou em debate inter-religioso na véspera da chegada do Papa Francisco
Assis, Itália, 19 set 2016 (Ecclesia) – O padre e teólogo português José Tolentino Mendonça disse hoje em Assis que a “amizade com os pobres” é uma das marcas fundamentais para a vivência religiosa.
O vice-reitor da Universidade Católica interveio num dos painéis do encontro iniciativa ‘Sede de paz – Religiões e culturas em diálogo’, que decorre até terça-feira na cidade italiana.
Na mesa-redonda ‘Religião e pobres’, Tolentino Mendonça começou por abordar o contributo da experiência religiosa para a cultura, “o tempo e o modo da existência”.
A intervenção, em italiano, abordou depois o património espiritual da “amizade com os pobres”, comum a várias confissões religiões.
O sacerdote madeirense sustentou que “as religiões nunca podem esquecer” os pobres na sua missão.
Tolentino Mendonça aludiu ao conto ‘Tristeza” de Tchékov para falar do “valor da escuta” e da necessidade de “aprender a escutar”, bem como da dimensão “terapêutica” da presença que se aprende com os mais pobres.
A mesa-redonda, moderada por D. Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha, contou com intervenções de D. Virgil Bercea, bispo greco-católico (Roménia); Albert Guigui, rabino chefe de Bruxelas (Bélgica); Gensho Hozumi, representante do budismo rinzai zen (Japão); Heikki Huttunen, secretário-geral da Conferência das Igrejas Europeias; e Abuna Musie, arcebispo ortodoxo da Igreja tewahedo, da Etiópia.
O encontro, promovido pela diocese de Assis, Família Franciscana e Comunidade de Santo Egídio, realiza-se 30 anos após o Dia de Oração pela Paz realizado na cidade italiana a 27 de outubro de 1986.
A iniciativa desejada pelo Papa São João Paulo II reuniu líderes e representantes de Igrejas e comunidades cristãs, bem como de várias religiões, para apelar à paz.
A cidade natal de São Francisco de Assis acolhe até terça-feira personalidades distinguidas com o prémio Nobel da Paz, responsáveis várias confissões religiosas e do mundo do pensamento e da cultura, como o sociólogo polaco Zygmunt Bauman.
O filósofo sublinhou que os ensinamentos do Papa Francisco em favor de uma “cultura do diálogo” são essenciais para “reconstruir o tecido da sociedade”, ensinando a “respeitar o estrangeiro, o migrante, pessoas que vale a pena escutar”.
“A guerra vence-se apenas se dermos aos nossos filhos uma cultura capaz de criar estratégias para a vida, a inclusão”, assinalou Bauman, na abertura dos trabalhos, este domingo.
Já Mohammad Sammak, conselheiro político do Grã Mufti do Líbano, sublinhou que o Papa Francisco se apresentou “como líder espiritual para toda a humanidade” quando disse que “não existe nenhuma religião criminosa, mas que existem criminosos em todas as religiões"
O responsável recordou depois o padre Jacques Hamel, assassinado numa igreja francesa enquanto celebrava Missa: “É uma vítima, não só para a vossa Igreja, mas também para a nossa religião”.
Em Assis estava também o bispo de Rouen, D. Dominique Lebrun, responsável pela arquidiocese francesa onde aconteceu o ataque terrorista que vitimou o padre Hamel.
O prelado deixou votos de que o processo para o reconhecimento do martírio do sacerdote católico “não seja uma bandeira levantada para combater e condenar, mas a alegria de agradecer pelo dom de um padre que deu a sua vida, como Cristo”.
O evento é promovido pela Comunidade de Santo Egídio, em colaboração com a Família Franciscana e a Diocese de Assis.
A presença do Papa Francisco culmina a iniciativa ‘Sede de paz – Religiões e culturas em diálogo’.
OC