As vozes da Igreja do silêncio

Sobrevivência da Igreja na China pode ser considerada como um “milagre”, mas é ultrapassado pelo seu crescimento quase imparável, nos nossos dias A China, com os seus mais de 1,3 mil milhões de habitantes, representa uma prioridade e uma forte esperança para o futuro da Igreja Católica, que conta com mais de 12 milhões de fiéis no país, menos de 1% da população total. Apesar da historicamente difícil relação com o mundo chinês, atrás documentada, e da tentativa de aniquilamento da Igreja durante a Revolução Cultural (1966-1976), a comunidade católica continua a crescer, contando hoje com 6 mil igrejas e capelas, mais de 100 Bispos (90% dos quais reconhecidos pela Santa Sé), 1500 seminaristas e 550 religiosas em formação, de acordo com os dados divulgados pelo Centro de Estudos Espírito Santo, de Hong Kong. Hoje em dia, a Igreja Católica e as outras Igrejas e comunidades cristãs vivem um momento de grande esperança, pelas perspectivas de crescimento que se abrem, mas também de grande constrangimento pelo clima de controlo e perseguição que continua a fazer-se sentir. Na China, o poder político integrou a liberdade religiosa na constituição do país, mas não eliminou completamente a perseguição e o controlo a que costumava sujeitar as religiões no passado recente. Assim, não obstante as declarações de princípio sobre a liberdade religiosa e o desejo de boas relações com as religiões, e a Igreja Católica em particular, continuam a registar-se inúmeros casos de perseguição e abusos contra líderes cristãos, tanto sacerdotes como leigos. Grande número dos casos têm ocorrido no Hebei, uma região onde se encontra a maior densidade católica do país (mais de um milhão e meio de católicos) e que regista uma forte adesão à Igreja dita “clandestina” e uma maior resistência ao controlo oficial sobre as actividades da Igreja. Ali, nos últimos anos, foram presos ou desapareceram seis Bispos católicos. Embora o Partido Comunista Chinês se declare oficialmente ateu, a Constituição chinesa permite a existência de Igrejas oficiais (Associações Patrióticas), entre elas a Católica, que tem 5,2 milhões de fiéis. Fora do controlo da APC, contudo, milhões de fé vivem a fé católica de forma clandestina. A sobrevivência da Igreja na China pode ser considerada como um “milagre”, mas é ultrapassado pelo seu crescimento quase imparável, nos nossos dias. Segundo alguns sacerdotes chineses, o número de conversões anuais ao Cristianismo poderia chegar aos 100 mil, apesar das grandes dificuldades sentidas pelos fiéis que não se sujeitam ao regime de Pequim. Liberdade religiosa O Vaticano tem manifestado, por diversas vezes, o desejo de que a China respeite a liberdade de culto e de religião no país, cuja ausência afecta de forma especial os mais de 8 milhões de católicos que vivem a sua fé na clandestinidade. No início de 2007 decorreu uma reunião de alto nível, convocada por Bento XVI, para abordar “os problemas eclesiais mais graves e urgentes, que esperam uma adequada solução em relação aos princípios fundamentais da constituição divina da Igreja e da liberdade religiosa”. Segundo comunicado oficial da sala de imprensa da Santa Sé, os responsáveis da Cúria Romana e da Igreja asiática presentes no Vaticano asseguraram a sua vontade de trabalhar para uma “normalização das relações” com a China, a vários níveis. A reunião juntou responsáveis da Secretaria de Estado e da Congregação para a Evangelização dos Povos, bem como prelados de Hong Kong, Taiwan e Macau. O encontro sobre a situação da Igreja Católica na China foi presidido pelo Cardeal Tarcisio Bertone, Secretário de Estado do Vaticano. Os participantes fizeram eco da vontade de “prosseguir um caminho de diálogo respeitoso e construtivo com as autoridades governamentais, para ultrapassar as incompreensões do passado”. Os objectivos imediatos da Santa Sé passam por permitir aos católicos na China “uma vida frutuosa e pacífica”, procurando “trabalhar em conjunto para o bem do povo chinês e da paz no mundo”. Para o restabelecimento de relações diplomáticas, a China exige que o Vaticano deixe de reconhecer Taiwan como país independente e que o Vaticano aceite também a nomeação dos bispos chineses por parte da Associação Patriótica Católica (APC), controlada pelo Estado. Nesta questão, contudo, a posição da Santa Sé tem-se mantido inalterável. A APC foi criada em 1957, para evitar “interferências estrangeiras”, em especial do Vaticano, e para assegurar que os católicos viviam em conformidade com as políticas do Estado. A partir da década de 80 do século passado, a APC passou a procurar a aprovação do Vaticano para os seus Bispos, em segredo. Hoje em dia, estima-se que cerca de 90% dos Bispos da APC sejam reconhecidos pelo Vaticano, fruto de um acordo de cavalheiros, que dava ao Papa a última palavra sobre qualquer candidato à ordenação episcopal e que foi quebrado de forma clara. Em 2006, contudo, vários Bispos foram ordenados sem aprovação pontifícia, o que provocou reacções muito duras da Santa Sé e de Bento XVI. Antes dos acontecimentos desse ano, as últimas ordenações sem o aval do Papa tinham tido lugar em 2000, com 5 novos Bispos da APC, e levaram a um longo congelamento das negociações entre a China e a Santa Sé para o restabelecimento de relações diplomáticas. A nota oficial aludia ainda à história conturbada da Igreja na China, sublinhando o “luminoso testemunho oferecido pelos Bispos, sacerdotes e fiéis que, sem cederem a compromissos, mantiveram a fidelidade à Sé de Pedro, muitas vezes à custa de graves sofrimentos”. Octávio Carmo – “China. Não fechar os olhos” (AIS) Católicos de Portugal rezam pela China No ano em que se realizam os Jogos Olímpicos em Pequim (China), a pena do jesuíta Henrique Rios dos Santos deu-nos reflexões que nos ajudam a compreender a Igreja Católica naquele país asiático. “Ao rezar o Rosário com os cristãos da China, pensamos neles, lemos os seus testemunhos, escutamos com afecto espiritual os seus ensinamentos e apelos. Pedimos que todos, no contexto da Ásia, acolham o Evangelho”, sublinha o autor. O Padre Henrique Rios, com larga experiência de missão na China, escreveu este livro de oração para rezar em comunhão com os cristãos que sofrem nesse país.

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