As religiões na China

O Budismo tem dois mil anos de história na China. Chegou da Índia e houve alturas em que foi rejeitado por ser demasiado Ocidental. Agora existe há tanto tempo que já não é visto como uma religião estrangeira. O professor Tong Shijun, Vice-presidente da Academia de Ciências de Xangai afirma que a maioria dos crentes religiosos na China é budista. “Budista não num sentido muito restrito porque muitos deles também prestam devoção a templos taoístas”. Uma questão “típica na China. As pessoas não são muito rígidas nos seus sistemas religiosos”. O templo de Fayuansi, em Pequim, data da era dourada do Budismo, no Séc. VII. Actualmente, a estrutura do templo, aloja a Academia Budista fundada em 1956 pela Associação Budista Chinesa dirigida pelo governo. A Academia forma monges budistas durante quatro ou cinco anos, que podem depois ingressar em outros mosteiros na China. A academia apenas aceita um de quatro candidatos que deve passar os testes do budismo, para além dos de política e inglês. O governo tenta manter um controle apertado sobre os assuntos financeiros dos templos budistas e taoístas. Os templos importantes com o Templo de Tanzhe, em Tanzhesi, perderam a sua importância como mosteiros e foram desenvolvidos como atracções turistas sob orientação da Associação Budista Chinesa. Os adeptos do budismo tibetano enfrentam restrições mais graves. O governo suspeita que o separatismo tibetano se encontra por detrás das actividades religiosas como a veneração ao Dalai Lama, por isso elimina-os, por serem politicamente subversivos. Dezenas de monges e freiras tibetanas estão a cumprir penas de prisão pela sua resistência à educação política ou patriótica. Em conjunto com o Budismo e o Taoísmo, centenas de milhões de cidadãos chineses adoram deuses, heróis ou antepassados locais, embora estas religiões sejam desencorajadas como superstições. O giverno é mais severo com os grupos religiosos não registados que classifica como cultos. Islão O Islão pode ter chegado à China no Séc. VII. Os números acerca dos muçulmanos na China, situam-se actualmente entre os 20 e os 40 milhões. 45 mil imãs estão licenciados para ensinar nas 40 mil mesquitas registadas na China. Mao Tse-tung não o Islão como uma força do imperalismo Ocidental e adoptou-o como uma política mais esclarecida em relação aos muçulmanos. Nesta altura, o regime estava ansioso por estabelecer boas relações com os governos muçulmanos do Médio Oriente. Alguns argumentam que a necessidade do petróleo dos países muçulmanos, ajudou a alcançar uma maior liberdade religiosa para os muçulmanos chineses, o que incluía permissão para peregrinações a Meca. A Associação Islâmica da China, o braço do partido que controla o Islão, foi fundada em 1953. Muito em breve a primeira tradução do Corão para chinês foi preparada sob a supervisão comunista enfatizando a compatibilidade entre os Islão e o Marxismo. Ibrahim Li Shu Wen é um dos imãs da Mesquita de Niujie, a mais antiga e maior de Pequim onde um dos edifícios acolhe as mulheres muçulmanas. Sob a Associação Muçulmana na China foram introduzidas imãs femininas e mesquitas apenas para mulheres. Os muçulmanos do resto do mundo denunciam este avanço como um desvio dos ensinamentos islâmicos, mas o imã Ibrahim preocupa-se mais com a adaptação à sociedade chinesa. “Os ensinamentos e as leis da nossa religião obrigam-nos a nós muçulmanos a contribuir para a sociedade a fazer o nosso trabalho e a viver uma vida honesta”. Estes muçulmanos pertencem a uma seita que não se une aos muçulmanos na mesquita de Niujie para rezar. Encontram-se em peregrinação aos túmulos dos muçulmanos persas, que ali pregaram no Séc. XIV. Também na China existem diferenças entre seitas muçulmanas, mas como fonte potencial de conflito, não são oficialmente reconhecidas. O imã Ibrahim adverte que até o diálogo inter-religioso poderia ser uma fonte de conflito. “Não mantemos um grande diálogo inter-religioso, porque cada religião é tão diferente e estas diferenças podem gerar discussões que apenas levam a maiores conflitos. Por isso, em geral, tentamos evitá-lo”. O Governo parece igualmente interessado em evitar conflitos e concede aos muçulmanos vários privilégios. São-lhes permitidos feriados durante as festividades islâmicas e as suas escolas podem fornecer educação religiosa. Mas nem todas as comunidades muçulmanas são tratadas do mês o modo. Em áreas predominantemente muçulmanas, onde ocorreu agitação étnica, a polícia faz um controle apertado da actividade religiosa. Na região de Shishiang, os professores e estudantes universitários muçulmanos não podem praticar a religião abertamente e as crianças com menos de 18 anos, não podem frequentar os serviços religiosos nas mesquitas. Cristianismo O Cristianismo não é uma novo importação Ocidental. No Séc. XII, Marco Polo relatou a existência de comunidades cristãs na China. E Parecia que o Cristianismo tinha chegado já no Séc. VII, um milénio antes de chegar à América. Após a revolução nacionalista de Mao Tse-Tung, o Cristianismo parecia não ter futuro. Muitas das igrejas chinesas foram destruídas e ainda se encontram em ruínas, outras foram encerradas. No entanto, a taxa de crescimento de cristão na China continental tem sido, surpreendentemente, elevada em comparação com Taiwan e Hong Kong, onde o Cristianismo pode ser praticado e pregado livremente. O crescimento mais surpreendente é entre as Igrejas protestantes de um milhão em 1949, estima-se que existam agora cerca de 20 milhões de crentes oficiais e 30 milhões de crentes protestantes independentes. Um deles é Hu Yi Juan, que praticou Budismo e Taoísmo até ter descoberto a Bíblia. Cristão há apenas sete anos, recorda que nessa altura, “a igreja estava meio vazia, mas agora precisam de construir uma nova, porque o número de pessoas aumentou muito. E são sobretudo jovens. Estou muito contente porque cada vez mais, jovens se tornarem cristão”. Um estudo realizado pela Universidade Aberta Chinesa mostrou que seis em cada 10 estudantes em Pequim se interessam pelo Cristianismo e querem tornar-se crentes. A maioria procura informação religiosa na Internet. “Actualmente cada vez mais chineses compreendem inglês. A Internet não tem fronteiras, por isso podem aprender muito sobre a cultura ocidental”, aponta Hu Yi Juan. A impressão e distribuição de Bíblias e de outro material cristão são prioridades protestantes. Hu Yi Juan dirige uma empresa de meios de comunicação. O seu objectivo é publicar livros e programas de vídeo que comuniquem os valores cristãos sem darem lições de moral em demasia. Ele espera que isto seja apenas o começo. “Espero que no futuro, seja possível os cristãos criarem editoras, estações de televisão e empresas de produção independentes na China”. Dezenas de milhar de grupos de Igreja protestantes não se encontram registados. Os seus membros e líderes são por vezes assediados por funcionários locais do governo e os edifícios da igreja são destruídos. Os cristãos protestantes argumentam que a repressão está menos relacionada com a oposição ideológica à religião do que com o medo de uma mobilização popular fora do controle do governo. “Penso que um bom cristão é automaticamente um bom cidadão. Seguimos os dez mandamentos e estes são muito mais exigentes que as leis que devemos seguir para sermos bons cidadãos”, explica Hu Yi Juan. A Igreja católica, muito hierarquizada e com sede fora da China coloca um outro tipo de desafio. Para manter os católicos sob controle, o objectivo do partido comunista era cortar os laços com Roma e criar a Associação Patriótica. O seu objectivo era dirigira Igreja desde o interior da China seguindo a linha partidária. Liu Bai Nian, Vice-presidente da Associação Patriótica Chinesa afirma que “a Associação Patriótica não é uma igreja nem uma ordem religiosa. É um colectivo patriótico formado por padres e leigos. A sua missão não é religiosa. A sua missão, dentro do sistema especial do comunismo chinês é construir uma ponte entre a Igreja e o governo”. Liu Bai Nian é um leigo católico. Como dirigente da Associação patriótica Liu Bai Nian, fiscaliza tudo o que acontece na Igreja oficial. Como é gasto o dinheiro, o que pode ser pregado, quem pode ser visto. Dos 12 a 20 milhões de católicos chineses, quatro milhões e meio estão registados na Associação Patriótica Católica. A influência de Lui é tão grande que por vezes é apelidado de «o Papa chinês». “Os protestantes estão a ter um crescimento muito mais rápido, por isso pode perguntar-se o porquê da comunidade católica chinesa não ter o mesmo crescimento. Qual a razão? Deve-se ao comando da Igreja Católica. O Vaticano ainda mantém relações diplomáticas com Taiwan, algo que é de difícil compreensão par os chineses”. No passado, o Papa era mantido fora de vista. Recentemente, prevaleceu uma nova linha de pensamento. Desde os anos 90 forma reintroduzidas na missa, as orações do Papa e a sua liderança espiritual é publicamente reconhecida. Mas apenas até um certo ponto. “César é Csar, Deus é Deus. São coisas distintas, especialmente na China. Nós, a Igreja chinesa, respeitamos a Bíblia e em assuntos de fé ouvimos o Papa, em assuntos da Nação ouvimos o governo”. A presença jesuíta Os primeiros cristãos a chegar à China foram os astorianos, durante o Séc. VII. No Séc. XIV, os franciscanos pregavam aos mongóis em Pequim. Mas na altura que os missionários jesuítas chegaram à cidade, em 1552, o Cristianismo não tinha de forma alguma desaparecido. Os Jesuítas tornaram-se académicos respeitados. Frequentavam a corte imperial e acabaram por conseguir meio milhão de conversões. O imperador ofereceu terras a Matteo Ricci, o mais famoso destes jesuítas que se tornou o primeiro padre de paróquia a que pertence actualmente a Catedral da Nantang. O sucessor de Ricci como padre de paróquia da Igreja de Nantang, é Francisco Xavier Zhang, que é também o secretário local da Associação Patriótica de Pequim. Segundo ele, a separação original entre Roma e Pequim, foi causada pelos preconceitos anti-comunistas. “Os estrangeiros missionários foram demasiado sensíveis ao ponto de vista do ateísta filosófico do Partido Comunista. Não que a Igreja católica chinesa tenha rejeitado o Papa, a Santa Sé é que rejeitou a Igreja católica chinesa”. O corte de laços com Roma causou uma divisão entre os católicos chineses. Segundo o Pe. Francisco Xavier, nem o governo, nem a Igreja patriótica são responsáveis por esta divisão. Ele culpa os que permaneceram ao lado de Roma. “ Esta divisão adveio de razões políticas e históricas, de preconceitos religiosos, egoísmo ou arrogância espiritual. Não tem nada a ver com a fé. Daí a Igreja clandestina, a separação. Os irmãos e irmãs em Cristo que tendo sido influenciados pelos preconceitos, pela razão política, agora preferem permanecer clandestinos e subterrâneos, sem sol, disseminando-se por todo o lado”. Os cristão clandestinos não partilham da visão do Pe. Francisco Xavier. Mas consideram-se parte de uma longa tradição – sofrer as consequências de dizer a verdade a poder. Instituições católicas A colaboração com o governo tem muitas vantagens. A restituição de bens, licenças e ajuda financeira para construir novas igrejas e a liberdade para ensinar o estudo da catequese e da Bíblia. Mas há também um preço a pagar. As mãos da Igreja aberta ficam atadas quando os valores cristão entram em confronto com as directivas do partido, como a política do filho único, que é muitas vezes posta em prática através do aborto. Paulo e Maria (nomes fictícios) são um casal que se recusou a ceder a estas questões. Paulo explica que têm cinco filhos apesar de o governo apenas permitir um filho por família. “Por isso somos punidos. A minha mulher foi presas por essa razão”. Quando as famílias têm mais filhos do que é permitido, o governo castiga-as com multas. A família de Paulo era demasiado pobre para pagar a multa, por isso a polícia confiscou-lhe a mobília. Mas Paulo e Maria estão convencidos que tomaram a decisão certa. São cristãos clandestinos. “O quinto mandamento ensina que não se pode matar ou fazer mal a si próprio, muito menos aos próprios filhos. Os nossos padres falam muitas vezes sobre isso. Há muitos abortos no nosso país e no nosso caso pensámos em não ter mais filhos mas agora consideramos uma benção de Deus”. Também DaWei, religiosa da Igreja clandestina, pensa que os filhos são uma benção. E têm muitos. Ela vive do campo, onde os meninos têm mais valor que as meninas. Nos anos 90, Da Wei em conjunto com outras mulheres fundou uma comunidade religiosa independente da Associação patriótica. As irmãs começaram por acolher crianças que tinham sido abandonadas nas ruas ou em lixeiras, na sua maioria, meninas. Para viver com as crianças como uma família, as mulheres escavaram um buraco numa montanha e construíram um abrigo improvisado. “No início deixaram as crianças à nossa porta e à medida que íamos tendo mais crianças, procuramos famílias que ficassem com as mais saudáveis. As crianças deficientes ficaram connosco”. A família cresceu e com ajuda, mais de 100 crianças passaram pela família de São José. A maioria foi adoptadas por famílias cristãs. As irmãs ficaram com as crianças que ninguém quer. “São deixadas ao abandono porque são deficientes. Neste caso as pessoas tratam os meninos e as meninas de forma igual porque, uma vez que são deficientes, não há diferença”. Os cuidados médicos na China tornaram-se um luxo inacessível para a maioria da população rural. Se um recém nascido necessitar de cuidados médicos extraordinários, as famílias locais sabem que a única esperança é a família de São José. Mas não existem financiamentos do governo e, se se acabarem os fundos que vêm de fora, algumas das crianças deixadas à entrada não poderão receber tratamento atempadamente. “Quando encontramos crianças abandonadas na rua, baptizamo-las e registamo-las. Depois são levadas directamente ao hospital para ver se precisam de cuidados médicos ou se têm alguma doença grave. Se tiveram, precisamos de arranjar dinheiro para pagar esses cuidados”. O trabalho das irmãs recebe o auxílio das pessoas da aldeia. Para muitos, a família de São José é o seu primeiro contacto com os Cristianismo. “Ficam comovidos pelo modo como os católicos amam estas crianças abandonadas e especialmente o que as irmãs fazem. Para as mulheres, as coisas são sempre mais difíceis e por isso, dão-nos roupa e vêem-nos visitar, trazendo doces para s crianças”. O trabalho de programas baseados na fé, na China, é raramente divulgado. O controlo oficial dos meios de comunicação permite ao governo atribuir os sucesso dos programas baseados na fé às autoridades locais ao mesmo tempo que mantêm uma posição anti-religiosa. Uma das obras de caridade católica, a Ajuda à Igreja que Sofre, tem vindo a trabalhar para apoiar projectos pastorais na China há quase 20 anos. Uma das iniciativas vitais para a Igreja local são as publicações religiosas. A literatura religiosa publicada sem autorização é regularmente confiscada e os editores são presos. Ser autorizado a editar livros, é um privilégio das religiões registadas. Nos últimos 20 anos as editoras católicas chinesas imprimiram mais de cinco milhões de livros, desde Bíblias e missais, a teologia e biografias de santos. A «Imprensa da Fé» foi fundada em Hebei, em 1991 pelo Pe. João Baptista Zhang. O que começou como uma pequena empresam é agora uma grande empresa de publicações católicas com mais de 240 títulos no seu catalogo. Publica também, quinzenalmente, o jornal «Fé» que, com quase 60 mil subscritores, é o jornal católico com maior circulação na China. O sacerdote Zhang explica que “muito mudou desde o passado até hoje. Há dez anos não havia nenhuma imagem do Papa no nosso jornal, mas agora existem tantas imagens do Papa como tantas notícias sobre ele”. Mas existe um limite a esta liberdade. Quando o sacerdote quis publicar o novo catecismo da Igreja Católica confrontou-se com um problema. “No início não o podíamos publicar porque havia algo de anti-socialismo e anti-comunismo. Mas o Papa João Paulo II deu especial permissão para a China”. Retirando uma frase, o livro publicado. Como qualquer outro editor, o Pe. João Baptista tenta imprimir livros que as pessoas queiram comprar. “Não podíamos publicar nada que não fosse apropriado para a nossa sociedade. Por isso, penso que todos os livros que publicamos são bem recebidos pelos católicos e pela sociedade”. As opiniões cristãos sobre o aborto e a pena de morte são temas demasiado quentes para serem tratados num país com a política do filho único e dez mil execuções por ano. O Pe. Zhagn tem de forçar o limite nas situações em que a doutrina cristã entra em confronto com o pensamento do governo. Redacção/Romereports e Chatolic Radio and Television Network/Ajuda à Igreja que Sofre

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