Timóteo Cavaco afirma ter crescido numa «bolha» Batista, onde o outro era o católico que mais tarde descobriu ser a maioria. Mas isso não o fez diminuir certezas no seu caminho: dividido entre dois amores, quando ainda o sonho de ser um médico missionário pairava, as humanidades acabaram por falar mais alto. À licenciatura em Bioquímica, juntou depois a História, a Filosofia, os estudos Bíblicos e ainda hoje, tantos outros interesses que confirmam a sua vontade, e necessidade, de abrir janelas.
Em outubro assumiu funções como presidente da direção da Aliança Evangélica Portuguesa, apesar de sublinhar privilegiar o diálogo entre as bases. Até 2025, gostaria que o diálogo interconfessional não ficasse em segundo plano porque acredita que o conhecimento e a linguagem do amor, quando falada nas diversas línguas cristãs, provoca maior impacto e beneficio na sociedade.
«A Bíblia esteve presente desde que começamos a falar as primeiras palavras: memorizámos versículos bíblicos, essa identificação com um Deus trinitário, esteve sempre presente na minha aprendizagem, anterior até à alfabetização. Já numa fase de adolescência e de confronto com a identidade, foi muito importante descobrir o significado de alguns textos: perceber que a minha vida podia ser uma oferta constante a Deus»
«A evidência de Deus acontece, naturalmente através de uma revelação dada pelas escrituras e de Cristo, mas também através do que vemos: olhar a natureza, a existência de uma forma geral que nos remete para esta pergunta essencial: como é que tudo isto existe, como podemos compreender tudo isto sem pensar em Deus?»
«Nos recentes resultados do Census 2021, percebemos que uma das áreas da população que mais cresceu foi a dos que se consideram «sem religião», o que talvez não descreva a realidade; sei que tinha sido proposto ao Instituto Nacional de Estatística a inclusão de uma categoria de «crentes sem religião», que não foi aceite. Mas devemos perceber que dentro dessa categoria lata de «pessoas sem religião», vamos encontrar ateus, agnósticos e também pessoas que não se reveem em nenhuma das opções anteriores e no entanto vivem algum tipo de religiosidade, muitas vezes até cristã – um acreditar sem pertencer a nenhuma instituição»
«É natural que os cristãos se expressem através de diferentes pertenças. Se assim não fosse, talvez não encontrássemos essa diversidade logo no I século. Há tradições diferentes, e não falo apenas dentro das grandes famílias cristãs: recordo a diversidade que há no campo evangélico, mas também aquela que se encontra nos carismas dos movimentos, nas paróquias e até nas dioceses católicas. A minha identidade protestante ficou fortalecida pelo conhecimento dos outros. Estou muito bem como cristão evangélico, sinto-me muito bem, identifico-me como tal e as outras referências cristãs acontecem não por oposição ou confronto, mas por encontro»