As festas humanizam a sociedade

A época do verão é fértil em festas variadas. São momentos de alegria que quebram a monotonia e dão solenidade à vida. Nas festas saboreia-se, de forma exuberante, a bondade e a beleza da vida e do mundo. Faz-se, portanto, uma experiência de liberdade em relação aos programas apertados do dia a dia, encontram-se novos horizontes e razões para entender e viver a vida com gosto. As festas criam também espaço para o encontro e para o convívio descontraído e livre das pessoas, fora das relações convencionais, apressadas e competitivas de cada dia. As portas abrem-se para as visitas que chegam, existe tempo e disposição para um acolhimento cordial, presta-se atenção aos outros, reencontram-se velhas amizades, vence-se o anonimato e a solidão. As festas têm uma capacidade agregadora e reunificadora da família e da comunidade. Muitos filhos da terra, que foram residir para fora, nesses dias esforçam-se por estar presentes e saborear a alegria do convívio e a força comunitária das mesmas tradições. Assim, as festas tornam mais vivo e mais forte o sentido comunitário. Este é também um fruto da fé que a comunidade cristã deve levar à vida social, a convivialidade humana. As festas afirmam ainda a identidade de uma comunidade. As pessoas encontram-se com as suas raízes, evocam memórias comuns, convivem de forma simples e acolhedora com os visitantes e procuram apresentar aos que vêm de fora a sua melhor imagem. Os habitantes mostram, no dia da festa, os seus pergaminhos, enfeitam as ruas da povoação, procuram irradiar e levar longe a notícia da sua alegria pela música e pelos sinos. Num tempo de individualismo, de estranheza mútua e de anonimato, devemos apreciar e promover estes valores humanos das festas, que são também valores cristãos. As festas têm também uma dimensão religiosa. Para aqueles que designamos de cristãos festivos, que frequentam a Igreja apenas em dias de festa, é nestes momentos que avivam a memória da sua experiência religiosa. Bastantes, que se consideram cristãos, vão à missa apenas na festa do padroeiro, ou no Natal, ou noutros momentos pontuais relacionados com a recordação dos que morrem. Na altura das festas cumprem as suas promessas e procuram garantir a protecção divina. A Missa solene e a procissão são, para este fiéis, expressões importantes da dimensão religiosa por criarem uma experiência de relação e de contemplação da Providência de Deus e da protecção de Nossa Senhora e dos Santos. A dimensão sagrada sustenta o mistério da vida, dá solenidade e dignidade à existência quotidiana, proporciona solidez e transcendência às experiências proporcionadas pelas festas como a bondade da vida, a alegria e o convívio fraterno, face ao sofrimento, ao medo e à solidão da vida quotidiana. O homem é um ser festivo por natureza. As festas são vitais para a sua existência. Nas festas afirma o poder da vida e da alegria, face à realidade do sofrimento, do desânimo e da morte. Por isso, as festas são tão antigas como o homem e hão-de acompanhá-lo na sua história. O ser humano precisa de festas para viver e celebrar a vida, para encontrar espaços de convívio e de integração. Nalgumas épocas parecem recuar. Mas depois regressam, como aconteceu entre nós com a “Revolução”. É verdade que por vezes apresentam desvios e são instrumentalizadas para fins lucrativos. Mas os valores que manifestam e a ligação profunda que mantêm com a alma do povo merecem que lhes prestemos atenção e nos esforcemos por fortalecer a sua verdadeira identidade e recriar novas formas de as celebrar. D.Manuel Pelino, Bispo de Santarém

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Agência ECCLESIA

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