Sónia Neves, Agência ECCLESIA
Estrias são marcas que ficam no corpo… Há quem não tenha mas, quem tem, sabe bem dizer a causa, tolera ou não gosta, esconde ou nem se incomoda, aceita.
Estrias são marcas que surgem pela rotura da derme, surgem pela idade, pelo emagrecimento, por uma gravidez, ou várias… Também tenho as minhas estrias, quem não? Dois filhos depois e os anos a avançar, as marcas fazem-se ver e que feliz sou quando para elas olho… Isso mesmo, marcas que me enternecem, lembram-me bons momentos e, sobretudo, não me deixam esquecer o que vivi. Aceito-as e convivo bem.
Como recordo bem as estrias da infância de um lanche partilhado entre sandes de mortadela e bolo sortido, de ir espreitar o clube de leitura, de participar na procissão da noite… Como recordo bem as estrias deixadas pelos anos do ensino preparatório e das dificuldades no secundário a cada explicação, as estrias de tanto estudo e divertimento em tempos de universidade… Como recordo bem as estrias deixadas pelas catequistas “avozinhas” (que adorávamos), do casal jovem que nos fez ver outra forma de estar em Igreja, da catequista consagrada que nos amparou, os caminhos dos grupos de jovens, tornar-me animadora de jovens com “o mundo às costas”, sentar-me a primeira vez ao microfone da rádio, de um caminho de pastoral juvenil sinodal que percorri e as aventuras e desventuras que viraram estrias…
Gosto de as ter e manter, são sinal de ter vivido, de ter feito, de ter sonhado, de ter ido, de me deixarem aproveitar, de me terem proporcionado tantas circunstâncias em que parti e voltei, “inchei e desinchei” da minha zona de conforto. Ao escrever este primeiro artigo, neste ano de 2023 a estrear, tenho comigo o desejo e sonho de ter mais estrias… sempre!
Olho a agenda (já com várias coisas marcadas) e desejo estrias de mais momentos de encontro, de família, de amigos e afetos, de comunicação e comunhão, de aprendizagem e humildade, partilha e caminho conjunto, de renovação. Tantas áreas que compõem este horário na vida…
Cada um há-de ter as suas estrias, umas mais marcadas do que outras, mais ou menos bem aceites, mais ou menos visíveis e conscientes. Este exercício de rever episódios e circunstâncias de vida aponta-me sempre o futuro, na esperança de oportunidades e outras circunstâncias a viver.
Também desejo que os jovens que vêm a Lisboa, no próximo mês de agosto, sejam atraídos por uma “comunicação que nunca separe a verdade do amor”, que possam falar-lhes “com o coração” e se tornarem boa semente para as suas comunidades, paróquias e cidades. Polémicas à parte, que os jovens, portugueses e estrangeiros, levem deste grande encontro mundial muitas estrias, na derme que posso chamar de fé, e no coração que lhes dá o ritmo a cada dia. Que lhes possam ser proporcionadas marcas vindas de experiências profundas, intensas, vividas com tempo… Mas também as famílias que vão acolher jovens admitam mais umas estrias, daquelas atiradas pelo acolhimento, alegria e partilha.
Como seres a viver em relação temos desejos de aceitação, de reconhecimento e de amor, afinal essas são as estrias que todos queremos ter… Que depois da primeira semana de agosto haja o compromisso para fazer mais e melhor em Igreja, comunicar com empatia e avaliar as estrias que ficarem… Este é o lado bom de um grande acontecimento mundial como este.