A documentação existente sobre as aparições da Cova da Iria “abunda mais para a hierarquia que propriamente para o povo” – realçou esta tarde (9 de Outubro) o Pe. David Sampaio, professor da Universidade Católica Portuguesa (UCP), no Congresso Internacional sobre «Fátima o Século XXI». O orador salientou ainda que entre os videntes “estabeleceu-se uma cumplicidade em ordem a manter reserva e silêncio sobre o acontecido na Cova da Iria». Na conferência – sobre o tema «Reacção do povo e da hierarquia aos eventos de Fátima» – David Sampaio afirmou que “à firmeza de Lúcia não correspondia a inocência de Jacinta que, em jeito natural, pôs ao corrente a mãe do que acontecera na manhã do dia 13 de Maio de 1917”. No congresso, que termina no próximo dia 12, David Sampaio disse às centenas de participantes, congregadas no Centro Paulo VI (Fátima), que há um contraste entre o povo e a hierarquia em relação aos eventos de Fátima. “O povo foi-se abeirando espontaneamente ao local das aparições como massa anónima, curiosa e devota.” Bem diferente foi o posicionamento da hierarquia. “Razões de ordem doutrinal aconselhavam cautela e estudo em ordem à averiguação do crédito a dar à hierofania que três crianças asseveravam ter tido no decurso de seis meses” – disse o professor da UCP. E acrescentou: “Os membros da hierarquia, bispos e sacerdotes no geral, estavam suficientemente informados dos muitos fenómenos que periodicamente configuravam visões, aparições e mensagens que determinadas pessoas diziam ter”. A reserva da hierarquia “incomodou os adversários de Fátima, mormente o republicanismo mais activo que gostaria de topar pela frente um opositor mais bem definido”. Os eventos de Fátima, todos à volta de Maria, após a “superação natural de silêncios, reservas, prudências, cumplicidades, acabaram por concentrar um sem número de pessoas num espaço aberto e público” – concluiu.