As aulas magistrais do Pe. Honorato Rosa

O olhar devassava, “ia ao mais íntimos de nós, enchia-nos do seu espírito de tolerância” afirmou o escritor Ruy Belo sobre o Pe. Honorato Rosa, falecido a 29 de Fevereiro de 1968. Quarenta anos depois, este sacerdote ainda continua na memória daqueles que conviveram com ele. O Pe. Honorato foi sempre “o principal protector da Academia de Santo António, governada pelos alunos, que promovia as sessões de sábado de manhã, o teatro com representações de autores que iam de Henri Ghéon a Albert Camus”; “A sua grandeza só tinha de igual uma humildade extrema e a imensidão das perspectivas que nos abria” e “Com o Pe. Honorato Rosa vivemos igualmente horas de grande enriquecimento espiritual e humano, graças à sua simplicidade, à sua bondade indiscutível, à sua generosidade irradiante” (In: “Por Caminhos Não Andados – Seminário dos Olivais 1945/ 1968) são frases reveladoras deste homem que nasceu a 22 de Dezembro de 1920, no concelho de Óbidos. Depois de frequentar os Seminários de Santarém, Almada e Olivais foi ordenado sacerdote a 3 de Outubro, pelo Cardeal Manuel Gonçalves Cerejeira. Foi docente de Filosofia nos Seminários de Almada e dos Olivais e do Instituto de Educação Infantil; de História do Cristianismo na Faculdade de Letras; de Filosofia e Moral no Instituto Superior de Serviço Social, sendo seu director entre 1963 a1968. Apreciado como “educador e como professor” (In: “Por Caminhos Não Andados – Seminário dos Olivais 1945/ 1968), para o Pe. Honorato tudo era Igreja, “desde o atender de uma pessoa humilde até ao dar uma aula magistral sobre História do Cristianismo, na Faculdade de Letras de Lisboa” – frisou Ruy Belo, no jornal “A Capital”, de 4 de Março de 1978. As aulas deste professor eram magistrais e as conferências estavam cheias de conteúdo. “A relação homem-mundo aparece como fundamental na nossa vida. Nós aparecemo-nos a nós próprios como alguém que precisa de se projectar no mundo para se libertar do mundo. É um paradoxo muito grande esta nossa existência no mundo” – disse o Pe. Honorato Rosa numa conferência Quaresmal proferida em fins dos anos cinquenta, na paróquia de S. João de Deus. E acrescenta: “os valores morais são justamente aqueles que empenham a pessoa como totalidade”. O actual bispo emérito de Beja, D. Manuel Falcão, – contactou directamente o com o Pe. Honorato Rosa – escreveu no livro “Honorato Rosa – A Dignidade Humana” que ficava impressionado sobretudo pela sua “inteligência penetrante e ágil, favorecida por uma excelente memória e uma capacidade extraordinária de captar o que ouvia e lia, mesmo apressadamente”. Apesar de estudar ao som de música da Rádio, as suas ideais eram “profundas e às vezes originais, e conseguia exprimi-las com rigor, clareza e fluência” Era ao Pe. Honorato Rosa que a JUC recorria quando precisava duma conferência “serena, actual e profunda”. Testemunhou o Pe. João Resina Rodrigues que acrescenta: “homem de reflexão e de saber, era também um homem de intuição e de experiência. Experiência da condição humana, que lhe vinha das longas horas de confessionário e do contacto com a literatura”. Este sacerdote e engenheiro da diocese de Lisboa conta que o mestre lhe ensinou a “fugir de todo o farisaísmo, a amar a Igreja sem precisar de negar ou de justificar os seus erros, a prezar os sacramentos e a saber que Deus pode salvar os homens sem eles, a procurar as oração e a conversão de maneira exigente mas sem subscrever todas as receitas da tradição, a libertar-me de todo o cálculo e estratégia”. Em relação aos alunos do Instituto Superior de Serviço Social, estes relatam que “permanece em nós todo o seu testemunho, a sua pessoa, a sua vida” (In: Boletim do Instituto de Serviço Social, N.º 2, Lisboa, Maio de 1968). Neste mesmo documento, o autor – escreveu em nome dos alunos – sublinha que o Pe. Honorato Rosa “deixou-nos bem vincado que era preciso saltar da mera atitude de inteligência para urgente conversão existencial”. Este sacerdote de Óbidos acentua mesmo que a cultura é essencialmente um olhar para diante. “É essencialmente uma possibilidade de prever e preparar o futuro e isto visa de uma forma muito interessante e difícil de apanhar o que é exactamente hoje a cultura.” Com um sorriso contagiante, Germano Cleto escreveu no livro “Por Caminhos Não Andados – Seminário dos Olivais 1945/ 1968” que se recorda duma frase do Pe. Honorato: “Não há crentes nem descrentes puros; a crença e a descrença são vizinhos no coração de cada homem”.

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