Testemunho de quatro portugueses que conhecem o actual Papa
Três alunos de Joseph Ratzinger e uma jornalista que acompanha as viagens do Papa deram a conhecer algumas facetas de Bento XVI que visita Portugal de 11 a 14 de Maio.
Numa mesa-redonda realizada ontem (21 de Abril) na Universidade Católica Portuguesa (UCP), em Lisboa, os quatro oradores mostraram «Bento XVI – visto de perto».
O «aluno» D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, disse aos presentes que Bento XVI fez a “sua teologia sempre em diálogo com a cultura: com a sabedoria grega, concretamente platónica; com a filosofia medieval e com o pensamento moderno e contemporâneo”.
Neste diálogo entre teologia versus filosofia, o bispo de Leiria-Fátima começou por fazer referência às três encíclicas de Bento XVI. Em relação à primeira encíclica «Deus é Amor», D. António Marto sublinha que “a simplicidade do texto pode enganar” porque “por detrás deste texto está toda a história do pensamento ocidental”.
O Pe. Noronha Galvão é um dos portugueses que melhor conhece Bento XVI, pois foi aluno do então Cardeal Joseph Ratzinger e participa nos célebres encontros anuais de antigos alunos com o Papa. Os seminários que o professor Ratzinger dirigia eram “grandes escolas de discussão teológica”.
Ao caracterizar o pensamento teológico do actual Papa, o Pe. Noronha Galvão acentua a “amplidão que ele abarca”. “Tem um grande rigor científico, baseando-se, por norma, no estudo exegético da Sagrada Escritura”, mas, por outro lado, integra “sempre a perspectiva da espiritualidade e da pastoral” – disse o orador no Auditório Cardeal Medeiros. Domina o pensamento filosófico, político e das ciências naturais. O pensamento de Ratzinger situa-se no “tempo que vivemos”.
O jesuíta António Vaz Pinto também «bebeu» da sabedoria do professor Ratzinger. Foi estudar Teologia para a Alemanha e matriculou-se numa disciplina leccionada pelo actual Papa. “Fiz com ele a cadeira de Eclesiologia” – disse o Pe. Vaz Pinto.
Depois de terminadas as aulas, o professor Ratzinger e o aluno Vaz Pinto deslocavam-se de autocarro para o centro da cidade. Num tom jocoso e no meio de uma gargalhada geral, o Pe. Vaz Pinto disse que Joseph Ratzinger “teve a sorte enorme de poder conviver três vezes por semana comigo no autocarro”.
“Permitiu-me um contacto muito próximo e amigo” – disse. E acrescenta: “era um homem muito culto, afável e tímido, mas com uma visão muito larga da realidade”.
Com 5 anos de pontificado (completados a 19 de Abril), Bento XVI ainda é comparado com o seu antecessor, mas a comparação “é injusta” – disse a jornalista Aura Miguel.
Acompanhou João Paulo II e Bento XVI nas viagens apostólicas e esclareceu as diferenças: “um é extrovertido e outro é tímido; um adorava desporto, este odeia desporto”. Enquanto Bento XVI “descansa a tocar piano”, o anterior era um “apaixonado pelo teatro”.
A jornalista da Rádio Renascença disse ainda que o actual Papa vive em “regime de mosteiro” porque “é o seu estilo”. Aura Miguel que lançou, recentemente, um livro intitulado «As razões de Bento XVI» contou algumas preferências do Papa alemão: “percebi que ele gostava imenso de doces”.