José Luís Nunes Martins
É preciso que haja terra fértil. Chão onde exista matéria em decomposição. Porque a podridão é fecunda. Porque os sonhos mais belos nascem dos contextos podres.
A monotonia e o tédio levam-nos a dias sem cor. Como se a morte tivesse vencido a nossa esperança. Mas nunca tem de ser assim.
Tudo é particular. Não há dias iguais, coisas iguais, assim como não há pessoas iguais. Nem uma mesma pessoa é igual ao que era ela própria ontem. A preguiça leva-nos a generalizações que nos poupam o pensamento. Levando-nos ao engano de julgarmos saber o que, afinal, não sabemos. Etiquetamos tudo e julgamos que está visto e será sempre assim.
Abrir os olhos, o coração e a razão ao que é único em cada coisa permite-nos aceder ao mundo em que vivemos, rico em beleza e autenticidade. Encontrar pontos por onde a nossa existência pode crescer.
Importa sair e lançar a nossa atenção para fora de nós. Como se brotássemos de nós mesmos.
É a partir de cada uma das nossas tristezas, sempre únicas, que podemos fazer reais as vontades íntimas de felicidade. Assim saibamos descobrir a sua força e a sua luz.
Tal como a ramagem de uma árvore, também a nossa existência se expande por caminhos diferentes. Uns secam, outros florescem e frutificam. Dão perfume de vida, dando-se sem critério a todos os ventos.
Mas é essencial que nunca nos esqueçamos das nossas raízes. Do chão que nos alimenta, sem que nem nós próprios possamos ver como. É lá, no mais fundo da nossa alma, que se encontra a semente que é nascente de onde brota a nossa vida.
Não devemos desperdiçar a vida julgando que é sempre igual e que será nossa para sempre.
Nos dias mais cinzentos e tristes, saibamos ser mais do que passivas testemunhas do mundo. Somos sempre protagonistas, mesmo quando nos parece que não há nada a fazer.
A vida quer viver. Basta-lhe apenas uma fresta e uma gota de água, que pode até ser de lágrima, para que se erga das funduras do chão onde, apesar de tudo, resiste e sonha com o céu.